sexta-feira, julho 31, 2009

6 Anos do Melhor Sexo

O fim do Sexo dos Anjos, o melhor blogue da direita portuguesa, é um momento que deve pôr todos a pensar. É o blogue mais lido da direita não-abrilina, foi a fonte de inspiração de quase todas as páginas do nacionalismo aceitável (e mesmo de algum que o não é), é escrito por um homem sensato e ponderado que não se rendeu a histerismos e disse sempre a verdade, mesmo onde esta não poderia caber… e no entanto, como todas as coisas boas neste nosso tempo, acaba.
O Manuel é a grande fonte de inspiração para os blogues mais recentes da nossa direita, sendo a grande referência e repositório de memórias de coisas que nós (os que nasceram depois de Abril, do PREC, da transformação de Portugal em província de outros interesses) não vivemos. O conhecimento de movimentos, publicações, autores, que os que vivem longe da realidade dos bastidores da direita, como eu, puderam obter, é algo de inestimável.
O Sexo dos Anjos cumpre seis anos. Cumprirá muitos mais enquanto os seus seguidores não se calarem e não deixarem cair as bandeiras de fidelidade erguidas pelo Manuel.
Continuemos então…

quarta-feira, julho 29, 2009

Os Blogues Eleiçoeiros

Os blogues dos partidos são a foleirada do momento. Baixo nível, discussões sobre discussões e pessoas, ausência de propostas, exploração de trabalho infantil, gente incapaz a brincar aos doutrinadores… tudo o que as “jotas” e os “jotinhas” têm de pior vem ao de cima no momento em que a “deputação” ou a “secretariação do estado” está em cima da mesa.
Eu fico sempre contente nesta altura. Como creio que o ridículo pode matar, rezo pela razia. No fim de contas, estão todos mortos, mas sem notificação. A salvação da Pátria é miragem, salva-se o bolso e a prestação.
No meio de toda esta agitação o monárquico passa a acérrimo defensor do regime e do conluio com o MFA, sem necessidade de se explicar. O direitista mais impoluto, afinal, até aprecia a austeridade de Ferreira Leite. O comuna mais empedernido até acha que deve haver relação entre o valor do trabalho e a remuneração e lá vota pelo Vale de Almeida, porque o filho anda a tirar o curso de maquilhador. É uma festa!

terça-feira, julho 21, 2009

Em Verdade

A mais recente encíclica papal suscitou muita controvérsia e muitas tentativas de apropriação da direita e da esquerda. Os erros que são conhecidos a quem não tem uma fonte para o pensamento, os que não reconhecem a existência de normas acima de si próprios, são evidentes: a direita desprovida de quadros normativos aprecia no texto o apelo à libertação do Estado, ao fim das tarifas meramente proteccionistas, da defesa da propriedade, da economia local e comunitária, enquanto que a esquerda pula de felicidade pela crítica ao valor intrínseco do mercado, pela defesa dos direitos dos trabalhadores, pelas responsabilidades sociais das empresas.
Toda esta discussão é absolutamente indiferente, pela simples razão de que aquele que não parte da Mensagem não possui a mínima capacidade de apreciar o documento como explicação e proposta inspirada por Cristo.

Ainda assim ao cristão são permitidas todas as dúvidas que a boa-vontade permite e é nesse sentido que me permito a algumas interrogações sobre a Encíclica Caritas in Veritate e sobre o que não não é explícito ou dito.

Ao contrário do que algumas pessoas têm afirmado, o documento do Papa não é um ensaio utópico. Apesar de lidar com o “dever ser”, não é um ensaio sobre um percurso inescapável para a perfeição ou sobre a forma de ultrapassar o pecado ou a escassez. É apenas uma descrição do mundo contemporâneo e da forma como o relacionamento entre os homens deve ser feito, de forma a que o mecanicismo, a técnica, a vontade individual, o poder do homem pelo homem, não triunfem. Nesse sentido o importante não é a pobreza, a condição de escassez, mas a pobreza gerada por acções humanas deliberadas e pela forma como os homens se relacionam. E nesse seguimento as palavras do Papa ganham perfeito sentido no contexto de uma Amizade concreta, repleta de um significado maior que a mera relação entre vários seres, numa vivência perfeita do sentido da Criação entre os vários seres conscientes, que se condensa numa amizade que transcende a particularidade de cada um ou dos vários constituintes da comunidade.
Aqui surge um primeiro ponto. Das várias perspectivas sobre o “logos” surgem os vários “dia-logos” que permitem transcender a individualidade e compreender aquilo que é verdadeiramente Bom para permitir a percepção de um Bem Comum. A ideia é interessante e perspectiva a forma como a Verdade condiciona a própria esfera pública.
Mas, infelizmente, o diálogo onde não existe a premissa Deus e a premissa Cristo, não tem gerado qualquer forma de avanço na determinação de fundamentos morais, como observamos no caso do Direito Humano ao Aborto, no avançar do secularismo e da crença no direito absoluto à disposição de si, na estranha superstição de direitos sem origem e sem deveres. A ideia de que de um diálogo entre princípios diferentes pode gerar uma norma mais próxima do Bom, do que um conjunto de pessoas que reconhecem as afinidades na Verdade e nos princípios, é algo que não consigo simplesmente compreender.
O ponto que se segue é evidente. Sua Santidade menciona o processo de desenvolvimento e diálogo como forma de alcançar uma forma de Bem Comum global e explicitamente demonstra como este só pode ocorrer no seio de um processo de reconhecimento da Ordem da Criação (Natureza, Vida, Bem). O que não se consegue vislumbrar é a forma como tal processo pode decorrer sem primado Cristão. O mesmo acontece em relação à sociedade. É manifestamente impossível a instauração de um “mercado de amigos”, de empresas de responsabilidade social, num contexto onde não esteja definida uma forma de amizade concreta como forma de relacionamento comunitário. E no contexto liberal ou social-democrata, nenhuma forma de relacionamento que transcenda a materialidade é existente enquanto lugar extra-subjectivo. Se o mercado possui princípios normativos anteriores, por que razão não pode a democracia e a esfera pública partir da premissa cristã para um diálogo e mesmo para seleccionar os dialogantes?
Não consigo vislumbrar de que forma a ajuda ao desenvolvimento de países que recusam as próprias condicionantes da pensabilidade do Bem e a sua inserção na corrida tecnológica, podem ser observadas como uma dádiva que não constituiu dano ao “bem comum mundial”, nem como será possível e emergência do Bem ao munir de bens materiais (sem a reciprocidade da aceitação da Ordem) aqueles que se lhe opõem.

quarta-feira, julho 15, 2009

Eu não tenho problemas com Henrique Raposo e até gosto de atrasados mentais...

Henrique Raposo é o meu tipo de idiota preferido: o néscio.
Como desconhece tudo o que não lhe tenha sido enfiado na cabeça por qualquer de seus mestres, acha que atingiu o cúmulo da sabedoria, permitindo-se, sob a capa da iconoclastia, dizer todo o tipo de disparates. A sua maior ignorância: não conseguir sequer perceber que gente mais capaz, mais esforçada, mais inteligente, não cabe nos rótulos idiotas que ele, homem de leituras apressadas e superficiais, resolve criar para o seu (e dos seus aspirantes a acólitos) mundinho confortável.
O Papa terá certamente muitos defeitos, mas não será, seguramente, nem um intelectual saído de máquinas partidárias, nem um estudante apressado de RI, nem alguém que se pronuncia por ter lido Marx ou Hayek. Seria preciso que alguém se desse ao trabalho de explicar o que é a DSI ao rapaz, explicando-lhe a sua ancestralidade, a forma como o Cristianismo baseia a sua compreensão do mundo num conjunto de premissas escatológicas e acima de tudo, que o mundo não se divide, ao contrário do que a sua depauperada compreensão imagina, entre os que defendem a sacrossantidade da propriedade e os marxistas. Esta dicotomia é o mais perfeito retrato de si próprio e da alarvidade em que se escondem as suas certezas.
A forma como HR que acha que o "dar a César o que é de César" é um salvo-conduto para a iniquidade e injustiça política, não chega a ser infantil. É apenas uma demonstração de como um miúdo armado em esperto se pode julgar capaz de, com quadros pueris e total desconhecimento dos princípios da cultura ou posicionamento que pretende avaliar, proferir sentenças sobre coisas que o transcendem.
Uma lição de democracia. Vai longe!

quarta-feira, julho 08, 2009

Pedro Arroja - Um Percurso

De economista a Papa...

segunda-feira, julho 06, 2009

A Democracia Cristã – Convencionalidade e Natureza










Depois de ler com atenção o texto de José Silva sobre a Democracia Cristã, sobram-me as questões. Nunca apreciei muito a Democracia Cristã ideológica, por esta ser mais uma forma de encontrar justificação para o tempo presente nas diversas tradições cristãs, do que uma séria reflexão política de inspiração cristã.
A questão pode ser resumida numa observação do estado presente dos partidos democrata-cristãos. Os que não desapareceram transformaram-se em partidos populares (partidos sem inspiração ideológica marxista, mas que representam as classes médias num contexto progressista, desenvolvimentista, capitalista-moderado, social), abandonando a sua matriz pretensamente cristã. As causas para este processo são, como é costume, a falta de solidez matricial do seu pensamento.
No caso da democracia cristã protestante a causa é evidente. A transformação de cada cristão num Papa, numa entidade máxima de interpretação lícita dos princípios do Cristianismo, cria uma total incomunicabilidade entre as várias interpretações. Residindo na leitura o reduto máximo da inteligibilidade, cada uma das leituras torna-se incomensurável, resultando daí o esvaziamento total do elemento substantivo (o Cristianismo). Tudo pode ser Cristão. Daí que qualquer das propostas de sociedade, mesmo as que violam mais gritantemente todo o princípio cristão, possam ser apelidadas de Cristãs. Nestas sociedades cristãs, a própria inversão de tudo o que é tido como Cristão é feita a partir do Cristianismo. Um dos exemplos mais evidentes foi a recente afirmação da “homossexualidade como dom”, por um pastor protestante no programa de Oprah Winfrey. Qualquer apelo a um princípio cristão no protestantismo é impossível.
Já no Catolicismo, a Democracia Cristã nunca deixou de ser um conjunto de premissas não-cristãs (protestantes), mascaradas pela referência católica. A máxima “Deus e Liberdade” de Lamennais esconde a realidade sombria de que para os seus proponentes Deus não é Liberdade, aceitando-se a concepção moderna de libertação autonómica como máxima social. O Personalismo de Mounier separa a pessoa do conjunto conceptual que permite afirmar o que é a Pessoa, ao tomar a possibilidade de um Estado Neutro muito semelhante ao liberal. O Maritanianismo parte da soberania da Vontade Humana na Política, aceitando que o critério do político seja o “querer” em vez do “dever” fundado na ontologia católica. Em suma, Revolução e não Cristianismo.
A fundamentação da Revolução na Teologia, através da amputação do Cristianismo.
Mais importante do que a democracia cristã é o Catolicismo na democracia e saber o que ainda têm os católicos como projecto de sociedade, como bem escreveu o José Silva. O Cristianismo nunca foi o actuar em mundos perfeitos.

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quarta-feira, julho 01, 2009

Crises e Ignorâncias













Certa figurinha da blogosfera anda muito preocupada com o facto de um clérigo acreditar que os ateus e agnósticos não realizam perfeitamente a sua humanidade.
A questão é evidente e deveria estar ao alcance de qualquer pessoa letrada (não confundir Letras com mundanidades da classe média lisboeta).
A concepção Cristã de humanidade significa a potencialidade para a santidade, algo que só é possível quando existe uma clara concepção de que o mundo tem um princípio, uma origem, que esta origem é benevolente e cognoscível e que a própria conduta humana deve ser conduzida no sentido de se adequar a essa luz que move a Criação. Como está claro, a incapacidade de compreender fronteiras exteriores do Eu é um agravo severo à compreensão de si próprio e o não reconhecimento de quaisquer limitações inscritas na natureza do Ser Humano (que escapem aos dogmas modernos da limitação corpórea) inscritas pela ordenação superior, cria no Homem a capacidade de se auto-definir. E se o Homem tem a capacidade de decidir o que o próprio é, por não se inscrever em qualquer estrutura dogmática, resta saber por que razão não poderá o senhor Cardeal decidir quem é Humano e o não é (não foi nada disso que o Cardeal O’Connor disse, mas aceitemos a depauperada interpretação da figurinha).
No fundo não existe grande diferença para o grande dogma liberal de que só pode ser cidadão aquele que crê na existência de um ente superior que o coage a cumprir a palavra, a respeitar a propriedade, aceitar a repressão política. Mas a ignorância ou a “agenda” de quem manda não o lembrou de tal.
Excita-se com pouco, como é próprio da idade.