segunda-feira, junho 02, 2008

É Mesmo Agora (I)














As reacções ao meu texto anterior, são quase uma resenha dos problemas da Direita Portuguesa nos últimos vinte anos.
O Rui Albuquerque fala-nos da “ecologia direitista”. Fala bem. Retrata uma Direita que vai passando com o tempo, agarrada a elementos e memórias do passado que não são mais do que ícones e em pouco falam com os dias de hoje (ao bom jeito dos que idolatram Marx e o Che e depois disputam pelo aumento dos salários e da propriedade individual e vão gastar o soldo no “Mac” mais próximo). Se a Memória é imprescindível ao homem moral, também é fundamental que a reverência pelos antigos não seja senão um reflexo de colocar os seus princípios em prática. Não há nada mais progressista que uma memória estéril, que lembra os navegadores e abomina a memória do Ultramar, que fala dos heróis, mas não lhes procura copiar as virtudes.
O grande falhanço dessa Direita, que também é sociológica, foi a incapacidade de procurar uma fonte para a sua proposta política. A solução que achou para uma “principiologia” foi a memória da acção política de Salazar, esquecendo que este já se encontrava em conversação prudencial com o seu tempo. Retirar da acção os princípios políticos, foi o erro fundamental desta Direita, que se encontrava já incapacitada de concordar, desde o Estado Novo, em algo que fosse superior ao “carisma” do líder.
Esta é a grande barreira a ultrapassar. Nem Salazar era tão salazarista, sabendo que noutras circunstâncias a defesa dos mesmos princípios poderia conduzir a acções bem diferentes. Definir Salazar como anti-liberal ou anti-parlamentar é apenas apanhar a acção e não as motivações. A união em torno destes elementos não faz justiça ao estadista, nem permite que os que com ele partilham os princípios actuem num “ambiente hostil”, encontrando-se presos num conjunto de “políticas” e não adequando as políticas à manutenção dos princípios, como deveriam fazer.

Já quanto às festividades actuais do 28 de Maio, nada sei. Sei apenas que a juventude que o Rui refere em nada se pode considerar parte dessa Direita Portuguesa e que quando celebram a data o farão, certamente, por engano, uma vez que nessa data se celebra a continuação da aventura ultramarina, um Portugal como projecto político e espiritual, as ruínas da Civilização Cristã contra a sua total aniquilação. Quem decide fazer evocações de datas, incorporando nestas elementos fantasiosos, fá-lo por sua conta. Não é o culto das datas e dos homens que determina a sua inserção política, mas as razões para o mesmo (os hindus que prestam culto a Nossa Senhora não passam a ser cristãos, porque o fazem segundo uma crença diferente).

Quando aqui falo na Direita, não estou a falar de grupos sociais. Falo em todas as pessoas que desprezam a ideia de que a comunidade política existe para servir caprichos individuais, de que o Homem é o elemento mais elevado na determinação da acção humana e que acreditam que a liberdade individual só faz sentido quando preservada em princípios que são maiores que a vontade momentânea. Vejo-os todos os dias. No meu grupo de amigos, que persegue uma alternativa filosófica a uma sociedade sem justiça, no autocarro onde as pessoas se insurgem contra a miséria humana gerada pelos programas de auxílio à Droga, na tasquinha onde ao almoço ouço como pessoas mais velhas a lamentar a miséria dos povos de África contra a ideologia genocida dos “direitos e auto-determinações” em que a única voz ouvida foi a das armas.


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