sexta-feira, maio 09, 2008

O Idílio Conservador Britânico





















Os Conservadores que reportam à moderação como elemento mais elevado são tão utópicos como os esquerdistas. Inventaram um país que nunca existiu e que lhes serve de referência, suposto exemplo de como a modernidade pode funcionar com obediência política e liberdade, com tradição e democracia.
A Inglaterra Imperial seria uma nação de chá, brandy e charutos, onde os mais aptos cuidariam dos menos aptos, onde alguma liberalidade moral democrática existiria, onde o povo escolheria os seus representantes, onde a paz social imperaria num clima de tolerância. Esse país, infelizmente, nunca existiu.

Ao contrário do que certa historiografia pretende fazer crer, o momento fundador da monarquia britânica moderna não é a Glourious Revolution, mas um momento bastante mais sinistro. Quando em 1661 o corpo de Oliver Cromwell foi exumado e sujeito a uma execução póstuma, o seu cadáver exposto e a sua cabeça colocada num espeto na Abadia de Westminster, o problema já era bastante evidente. O “político” havia decidido aplicar uma justiça que se diferenciava pelo facto de condenar mortos, de lhes querer tomar a alma, sobrepondo-se à justiça divina que opera nesses casos. O Terror foi um elemento fundador da paz social que se viria a registar nos séculos seguintes e não qualquer espírito de tolerância por parte dos ingleses.

Do espírito de tolerância inglês há que relembrar o reinado de Jaime II. Este Rei elaborou uma lei de tolerância religiosa que assegurava a liberdade de consciência, a Declaration of Indulgence, que em 1687 permitia que todos os ingleses escolhessem a sua religião segundo os seus desejos. Jaime II, o último católico coroado por aquelas partes, terminou também com o monopólio anglicano no ensino, deixando que (pasme-se) alguns católicos ensinassem e aprendessem em Oxford. É claro que o tolerante povo britânico não podia deixar que isto acontecesse e tratou de resolver esta situação através de uma Revolução Gloriosa, que voltou a trazer o monopólio anglicano. Em 1780, quando foram elaboradas leis para minorar (e não eliminar) as discrepâncias entre protestantes e católicos, e no meio de um clima de grande paz social, o bom povo de Londres resolveu queimar Igrejas e casas de católicos, atacar deputados e destruir meia cidade. O doce sabor da tolerância e do cavalheirismo...

Talvez um dos aspectos mais gloriosos dessa Revolução tenha sido a formação de um monopólio anglicano para tudo nas Ilhas Britânicas. Para quase todas as actividades laborais, excepto as menos lucrativas, havia restrições para não anglicanos. Fala-se muito da perseguição aos comunistas no Estado Novo, mas esquece-se que até ao fim do século XIX, no Reino Unido, era preciso jurar fidelidade às instituições para se poder ter um qualquer cargo público (mesmo que menor).
Na Irlanda, a posse da terra e os trabalhos intelectuais, pelos católicos era proibida. Para tudo era preciso um "testa-de-ferro" protestante, que se fazia pagar pela sua disponibilidade. Três quartos da população suportava os protestantes, que não trabalhavam em virtude da sua religião.

Um Estado Confessional não é novidade, mas um Estado em que o Parlamento elabora decisões eclesiásticas está muito perto da loucura totalitária do século XX.
O facto dos crimes de sedição serem punidos com a pena de morte, também deveria pôr muita gente a pensar sobre que paz era e de que forma havia sido obtida.
Um sistema político de representação em que os lugares eram vendidos ao candidato disposto a pagar mais...

A doce e livre Inglaterra!!!

Etiquetas: