quarta-feira, maio 07, 2008

O Jusnaturalismo Liberal é Jusnaturalismo?
















Tenho lido com atenção os posts do RA sobre o jusnaturalismo. Nele estão contidos alguns dos grandes erros do liberalismo. Há um, em particular, que é mais nefasto que todos os outros. A ideia de que o jusnaturalismo secularizado é uma continuação do clássico, é um erro gravíssimo, uma vez que este é uma resposta e uma oposição ao mesmo. Quando o RA fala dos pressupostos morais da sociedade, fá-lo em completa oposição com o verdadeiro sentido das palavras natural e moralidade.

Foi interessante, no século XVIII, que se falasse de sentimentos morais como passíveis de fundar qualquer sociedade. Mas depois de observar a forma o século XX perverteu todos os sentimentos e a forma como os genocidas despertaram a adesão das massas populacionais, afirmar que a comunidade se funda numa “moralidade média” que lhe serve de sustentáculo, é quase criminoso.

A solução para este problema é uma constante. Olhar as sociedades que cometeram os actos criminosos mantendo a pureza dos seus sentimentos, como selvagens é batota (resta provar que a Alemanha Nazi não era um país civilizado no Entre Guerras). Primeiro diz-se que os sentimentos são tudo. Depois que há gente que não tem sentimentos. Não seria então aí, mais importante que tudo, elaborar uma compreensão sobre os sentimentos, de uma forma que estes sejam compreendidos como algo fora da própria sentimentalidade, pensar de novo o Bem e o Mal, em vez dessa ilusão de que o auto-interesse ou os nossos instintos resolverão essa contenda? Há dois séculos que sabemos que isso não chega…

Mais uma vez o RA esquece que mais importantes que as palavras são os seus significados. Quando Locke fala em moral, o que está a dizer é “direitos de propriedade racionalmente justificados”. Quando Smith fala em preservação da moral, o que está a dizer é “manutenção da estrutura social que permite a manutenção da propriedade”.
Elaborar a partir daí uma concepção do que é bom ou mau, que não seja mera delimitação arbitrária de esferas individuais, com o objectivo da manutenção da paz e legitimação do elemento político e com o objectivo de evitar as grandes questões do Homem, é dar um alcance ao liberalismo que ele não tem. O alcance de Locke e Smith não chega, também, para tanto…

Enquanto que o jusnaturalismo clássico se preocupa com o bem e o mal, o moderno preocupa-se com a delimitação de esferas para a justificação do Poder.

Como pergunta Strauss, não foram estes jusnaturalismos todos, saídos das obsessões com a ordenação comunitária, a grande fonte do positivismo, do historicismo e do relativismo?

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