segunda-feira, maio 19, 2008

Democracia Sem Mediocridade

Gosto muito de ver que Pacheco Pereira voltou à carga contra o Regime. Mais uma vez lhe noto a fragilidade dos intelectuais. Sem fonte donde partam os seus valores, sem um elemento que lhe sirva de princípio, a sua crítica será sempre um estranho arrazoado. Quer maior liberdade, mas não quer uma sociedade em que o disparate seja permitido. Quer um regime de voto popular, mas não quer que o soberano seja comprado pelos que precisam do seu apoio. Quer sociedade civil, mas não aceita que a sociedade civil contemporânea faça a divulgação daquilo que esta mais preza, a irrelevância.

Pacheco Pereira vive numa utopia do século XIX, que não se realizou nem realizará. Uma sociedade em que a democracia serviria para elevar o povo à nobreza. Uma sociedade sustentada por visões privadas (para assegurar a liberdade individual), mas em que o valor da verdade comunitária e da elevação não seria questionado. Uma sociedade sem hierarquias de valores, mas onde ninguém se entrega à auto-gratificação mais abjecta, ou à transgressão da justiça para auto-satisfação.
De toda essa parafernália ideológica oitocentista, nada saiu de jeito. As populações estão cada vez mais embrutecidas, mas agora com muitos electrodomésticos e com formação profissional. Isso já se sabia em 1974, como agora. Não adianta simular candura.

Eu acho que o povo faz bem em embrutecer. Dá me gozo ver a geração de Pacheco Pereira, a de meus pais, assumir todos os seus erros. Encho-me de riso ao ver que os libertadores angolanos e combatentes anti-colonialistas, agora são “ladrões” e “cleptocratas”, divirto-me ao ver uma escola em que os “conhecimentos” são substituídos pela “inclusão”, entretenho-me a contar os articulistas que se elevaram contra o Estado Novo ou fugiram para França e que agora vêm falar de critérios públicos para a comunicação social. A nossa sociedade é um bom passatempo e um estudo de caso notável de riqueza material e pobreza de espírito. Já se pode falar em declínio, como no resto da Europa.

Do Fátima, futebol e fado, passámos a uma tríade bem pior: futebol, Big Brother e bens de consumo. Resta perguntar a Pacheco Pereira e aos outros que nos puseram nesta, como é que podemos sair daqui.

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