sexta-feira, maio 16, 2008

Lomba Confusa







Depois de Seguro, a Lomba. O calibre dos nossos articulistas “de referência” resplandece. Figura de proa do nosso articulismo e bloguismo, Pedro Lomba demonstra que percebe da poda. Diz-se liberal-conservador, e brinda-nos com esta pérola

“Um liberal-conservador está sempre a vigiar a temperatura das suas convicções. Se o termómetro dispara para cima ou para baixo ele age logo com medidas temperadoras. Como liberal preza a independência pessoal contra todas as formas de sujeição, servilismo e pobreza. Como conservador reconhece que a independência absoluta é um projecto impossível e que há um módico de autoridade e hierarquia que temos de aceitar. Como liberal é individualista e pelo mercado. Como conservador reconhece que os indivíduos vivem melhor em comunidades socialmente coesas e organizadas. Como liberal é optimista. Como conservador é pessimista sobre o seu optimismo. Como liberal aprecia a cultura de massas. Como conservador não diz que é arte qualquer saloiice. Como liberal acredita. Como conservador desconfia. O liberal-conservador não rejeita a existência de contradições. O que tenta é um equilíbrio difícil entre si e os outros.”

Lomba acha que os conservadores não defendem a autonomia individual, mas acha que a autonomia é um sonho impossível. Sim, e depois? Será que isso tem alguma coisa a ver com conservadorismo, ou apenas com uma forma de liberalismo que é “realista” e não-economicista?
A boçalidade da primeira ideia é desmentida por séculos de história, sabendo que a própria existência da autonomia individual provém do pensamento cristão que os conservadores defendem. A da segunda proclamação revela que Lomba está confuso e acha que um sonho impossível é uma finalidade legítima da comunidade política.

Depois acha que o liberal aprecia a cultura de massas, mas como conservador defende o gosto a título privado. Ou seja, o conservador ou é um inconsequente, que acha que as suas posições são tão boas como qualquer outra e que a estética é uma coisa desligada de uma concepção de bem, ou então é um esquizofrénico que acha uma coisa e o seu contrário.

Quando o Lomba descreve o seu liberalismo como crença e o seu conservadorismo como cepticismo, o esquema é finalmente revelado. Acredita no liberalismo, mas tem dúvidas quanto ao liberalismo, porque é céptico. Infelizmente aqui não permanece, outra vez, menor resquício do pensamento conservador, porque essa posição conservadora não é autónoma. É apenas uma dúvida prudencial quanto à aplicabilidade prática do esquema mental liberal que o PL professa.
Porque é que se representam as dúvidas ao liberalismo-filosófico como sendo conservadoras, sendo que estas são dúvidas que emergem da mesma fórmula mental que o liberalismo? Nem quero imaginar que seja porque os liberais andam à caça de apoios...
E, já agoram, por que não poderia ser o inverso? Do seu conservadorismo vir a crença (numa ordem natural das coisas, numa Justiça, numa ontologia...) e do liberalismo a dúvida?
Dizem que leram Tocqueville...

Falta, no meio de todas estas declarações de intenções moderadas, determinar o “porquê?” . Sobre isso, infelizmente, nem uma palavra. Um conjunto de confusões e expressões identitárias sem nenhuma articulação que não seja a vontade do freguês. Uma total ausência de substância a lembrar este senhor. O conservadorismo tratado como se se identificasse com a filosofia humeana.

É a sociologia, estúpido!

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