domingo, setembro 03, 2006

A Paz pela Paz

Chegou-se a uma paz. Uma paz que é uma ausência de conflito e não uma Paz verdadeira. Chegou-se a algumas conclusões. Primeiro, que o conflito não era imprescindível para a subsistência do Estado de Israel. Segundo, que a comunidade internacional não existe, assim como não existe uma Ordem Internacional pós-11 de Setembro. Terceiro, que a Europa não existe e só existirá com o sacrifício do que a tornou importante.

Primeiro que tudo é fácil observar que Israel ainda existe, apesar do fim da beligerância, sem qualquer tipo de força de manutenção de paz ou entreposição. Um jogo mental simples, fundado em ignorâncias várias e em na confusão de princípios maquiavélicos e hobbesianos, que gerou o branqueamento de situações de pura maldade em prol de uma ameaça que se manteve inexistente. Daí a um estado de necessidade desculpabilizante, que eliminou o mal da destruição de recursos que nada tinham a ver com o Hezbollah, foi a distância de um exagero e de uma mentira.
Uma paz que não desarma o Hezbollah, que aqui sempre defendi como única finalidade positiva da intervenção militar, é má para Israel e para o Líbano, para todos os povos (cada vez em menor número) que não desculpabilizam crimes terroristas.

Esse é um ponto essencial para quem quer perceber os príncipios da nossa ordem internacional. A incapacidade de encontrar inimigos é um problema de ausência de fundamento. Concorda-se numa Aliança Internacional para intervir no Líbano, condena-se o terrorismo internacional em vez de se desarmar o Hezbollah... não se sabe o que é que se lá vai fazer!
Tudo o resto é uma pastelaria conceptual sentimentalona, o desejo de exaltar o povo num sentido e noutro para evitar uma reflexão profunda sobre o estado das relações internacionais mundiais. Nenhum princípio comum pode ser analisado com propriedade, nenhuma ideia é fundada em algo sólido. Os argumentos são o mais sujo, o lixo é atirado de um lado para outro.

Quanto mais rápida é a reacção, mais rápido sai o disparate.
Sem ideias originais, sem uma noção partilhada de bens a preservar no meio deste conflito a acção é rápida, mas sem qualquer objectivo que não seja reclamar uma zona de acção! Dizem alguns que o Médio Oriente é uma zona de influência europeia. Ficamos à espera de saber qual a diferença proposta europeia para o Médio Oriente.
Calculo que a proposição de poder europeia para as suas zonas periféricas seja a exportação do seu lema “unidade na diversidade”. A Europa não deve querer discriminar o Hezbollah...

A doutrina Soares cada vez ganha mais peso nas instituições. Os terroristas de hoje são os nossos aliados de amanhã.

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