sexta-feira, julho 14, 2006

A Supertribo

Uma das grandes confusões que reparamos nestas discussões todas sobre nacionalismos é a forma como se transformaram os tribalismos, um fenómeno infrapolítico, num elemento político ou suprapolítico.
A tribo é um elemento onde persiste uma certa forma de consanguinidade (muito limitada, pois que é, em grande medida uma forma de “clientela”), uma partilha de alguns elementos fisionómicos, mas que é desprovido de cariz político. Não há “bem comum” numa tribo, mas poder sociológico e económico. Seria ridículo falar de uma “cidadania tribal”. É um elemento de pertença factual, ainda que desprovido de princípios estruturantes. O elemento moral e a preservação de um Bem político só existem onde existe o “interesse comum na perseguição da vida boa”, uma amizade que se consubstancia na procura da Vida Boa e na justa ordenação da causa comum.

O que não se pode senão estranhar é a completa inversão dessa “clientela”, num elemento onírico que subordina a própria existência de uma vida em comum. Um elemento que anteriormente era intermédio entre a família e o político agora passa por “superestrutura” do fenómeno político.
Não é de estranhar que essa superestrutura seja desprovida de conteúdo substantivo. Não há obrigações, nem uma concepção peculiar dos elementos estruturantes da vida humana. É um conceito vazio em termos políticos!

O Estado ou é defensor de princípios de vida em comum, ou não é Estado!
Quando acima dessa busca da vida boa em comum se colocam outros elementos mundanos, limita-se a existência do Homem ao material, e este . É por isso que se mantém o princípio de que uma nação não é ideologia, nem congregação religiosa, como alguns querem fazer crer.
A determinação de inteligências ou de acesso ao divino é irrelevante na determinação de uma pertença política.

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