quarta-feira, julho 19, 2006

Estados de Graça

Quando alguma da população libanesa saiu à rua protestando pela sua libertação do jugo sírio pensei que se tratava de um dos eventos mais importantes no processo de pacificação da região.
Estranho que o evento tenha sido obliterado das mentes de muitos. Numa semana os libaneses voltaram a usar turbante e kalash...

O mais grave são os silêncios que nos rodeiam, à espera de desenvolvimentos.
Aquela trampa que os media continuam a exaltar como enorme esperança do mundo, a ONU, revela-se na sua verdadeira forma. Democraticamente continua a ser uma entidade que replica as opiniões de força das sociedades, os interesses generalizados dos poderes de facto. A Justiça cínica dos mais fortes. Tudo dito quanto ao interesse desta organização que, pasme-se, tem duas missões no terreno que hoje está a ferro e fogo.

Mais uma vez o grande inimigo é a incondicionalidade. Não querendo fazer de crítico da crítica, não posso deixar de me assustar com o facto de já saber, na blogosfera e nos media em geral, exactamente o que todos irão alegar neste caso. Há por aí umas paixonetas que se apoderam dos cidadãos de países de "terceiro mundo", os países onde nada se decide, que relembram a decadência portuguesa do século XIX, em que havia motins e "porradaria" entre os partidários das causas de Inglaterra e de França. Para estes a adesão é sempre incondicional.
A argumentação justifica as suas paixões, em vez de deixarem a razão orientar os seus desejos.

Lembro-me de ver Manuel Monteiro na TV a defender a acção americana no Iraque, dizendo que os Estados Unidos estavam magoados com o 11 de Setembro. Não sei se Monteiro leu Sorel ou Marinetti, mas a catharsis da violência não costuma dar bons resultados. Cria-se a ideia de que um país magoado tem um período em que pode dar livre vazão aos seus instintos de revolta.
Como se a culpa de outros os absolvesse das suas acções futuras...
Mais uma vez uma forma de incondicionalidade, forma que é sempre oposta à Justiça!

Folgo em ver o exército israelita a entrar pelo Sul do Líbano, combatendo gente que é inimiga de todo o tipo de honradez que ainda considero ser a plena realização da Humanidade. O Hezbollah não é um exército, mas um conjunto de assassinos muito bem armados. Todos os que disparam indiscriminadamente, sejam mísseis, ak-47´s, ou fisgas, não se importando com quem atingem, o são. Por isso me entristece ver o exército israelita utilizar métodos idênticos, sobre alvos de duvidoso interesse estratégico no combate ao Hezbollah. Fábricas, camionetas escolares, leitarias...

Se não há guerras assépticas, sem exageros e ódios, não há Estado Justo que não puna a morte de soldados que se renderam, de crianças e mulheres desarmados. Não há Estado Justo que negoceie a morte de inocentes, que a negoceie como cabras ou camelos. Não há Estado Justo que inicie hostilidades sem uma declaração, dando tempo a que as populações abandonem as zonas adjacentes a alvos militares.
Não havendo Estado Justo não há Estado.

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