sexta-feira, outubro 08, 2004

A Desculpa e o Problema

Há coisa de dias pedi desculpa por um comentario infeliz que teci a respeito de um texto de Filipe BS. Foi uma a proposito de uma reflexao que estava descontextualizada. Ao ler apenas um conjunto de frases (de facto descontextualizadas) fiquei com a impressao de que se tratava de um ataque a televisao, enquanto meio (o que seria tao idiota como as pessoas que são contra as armas, ou contra as prisoes! ). Já ensinava Aristoteles que o objecto se define pela sua funçao e por isso uma arma nuclear pode ser uma coisa boa ou uma coisa ma, dependendo de que fins visa defender.

Há contudo que ressalvar que ambos os argumentos se encontram limitados.

Buiça incorre nos argumentos do costume. Trata a economia de mercado como um deus pagao e as liberdades individuais como Suprema Fonte da existencia humana, ignorando que existem coisas muito superiores.
Imaginemos que todo um mundo esta debaixo de um qualquer Bill Gates, detentor do monopolio mundial de todos os bens. Todos os seres humanos na terra dependenderiam da vontade desse homem. Ele poderia, assumindo o justo titulo da sua riqueza, decidir da vida e da morte de cada um, excluindo esse individuo do processo economico!
Poderia faze-lo? Claro. Ele tem direito a isso, porque esta no seu direito. E se quiser gerar um holocausto e fazer morrer a fome milhoes de pessoas apenas com o objectivo de demonstrar o seu direito?
E obvio que esta situaçao não e justa e demonstra a necessidade da supremacia do poder politico sobre o economico. Mas isto não afecta a economia de mercado? Claro. E as liberdades dos cidadaos? Sim, se a liberdade for entendida como autonomia individual e não como capacidade colectiva de descobrir e fazer o bem…
Essa e a diferença entre poder politico e economico, que Locke, Hayek ou Nozick ardilosamente tentaram fazer coincidir. Esse e um mundo abjecto em que dificilmente se consegue viver, em que se deve de facto erguer a voz (isto parece um discurso anti-globalizaçao, mas não e!!!).
Não se pode certamente concordar que se todos querem ir para o abismo os deixemos ir… O nosso dever etico e salva-los, como se salva um demente da sua loucura. Não se esta simplesmente a espera que cometa um crime para dizer que ele e demente e se proceder a sua cura. Isso seria indefensavel e cruel.
Para alem disso se e a liberdade (autonomia da intervençao estatal) o mais natural dos regimes, poderemos dizer que o Homem cumpriu a sua natureza nas democracias do seculo XX? Há ai Fukuyama a mais e classicos a menos! Já Platao escrevia que estava a encontrar o fim dos tempos (mas por razoes religiosas e não para ganhar uns cobres a vender papel impresso)…

Compreendo a irritaçao de Filipe BS. Os argumentos do Buiça são os argumentos que a turba coloca como oposiçao a qualquer ideia que fuja ao canone costumeiro da conversinha dos “direitos humanos” e do “e preciso acabar com a pobreza”. Não existe contudo qualquer necessidade de hostilizar a besta (não o Buiça, mas o conjunto informe de pessoas, que, como sempre me recorda o meu amigo LHF acerca do saber politico de Honore de Balzac, “nada mais precisa senao de jugo e palha”. Esse não e certamente o caminho.
Alem disso as nossas discussoes aqui pelo mundo dos blogues são de ambito tao restrito que são mais pelo prazer pessoal de deixar uma marca, do que pela repercussao social que este meio tem.
Apesar disso, o Buiça tem razao em afirmar que muitos aspectos a direita que por ai se apregoa como portadora dos valores nacionais, e, ou uma inversao completa do socialismo, ou uma adaptaçao do socialismo a um contexto não internacionalista, ou seja, a sua aplicaçao a um contexto comunitario.
Esta ideia deriva duma incompreensao do que e a esquerda, catalogando-a como erronea em virtude do seu sistema de organizaçao social, igualitario e internacionalista, e não pela sua errada mundividencia. Estao preocupados com o corpo e não com o espirito do problema, incorrendo e recorrendo nas mesmas erroneas concepçoes que causam a sua maleita.
Por isso encontramos ai muita gente da auto-apregoada Direita Nacional que recorre as simplistas doutrinas de um Saint-Simon, de um Proudhon, de um Comte, ou nos ultimos tempos de um Kadahfi ou de um Chavez. Nessa forma de pensamento a compreensao da existencia humana e baseada (como tantas vezes já aqui foi referido) na vontade comum. Por isso se encontram mais proximo da religiao da comunidade de Rousseau (há por ai alguem que tome Rousseau como um pensador de direita?), do que de qualquer pensador de direita ou de qualquer contra-revolucionario. Os problemas da doutrina rousseauniana são por demais evidentes! Reduzem a comunidade a um conjunto de caprichos momentaneos, que podem ser repletos de heroismo “a romana”, mas que são autodestrutivos. São apenas um conjunto de decisoes, em que a participaçao dos cidadaos os redime para logo a seguir por ela serem sacrificados!
Esse e um dos problemas da chamada direita nacional. Ou e uma completa rejeiçao da igualdade do Homem, o que levanta um conjunto de problemas que poderao ser aflorados em posts posteriores, ou são apenas a transformaçao, ou e um conjunto de ideias modernas onde foi retirado o factor “universalidade” e substituido por “comunitarismo”. Quando o Filipe BS reflecte sobre certos comportamentos como anti-sociais, não o faz sob um prisma do certo ou errado da pratica sob a sua fundamentaçao, mas sob o prisma da sociedade e da vontade geral por ela imposta, o que um obvio sintoma de pensamento socialista, moralmente falando.
E o problema dessa vida heroica em estilo heideggeriano. De que serve ser um heroi se os fins não forem correctos? Decerto que um assassino numa quadrilha de malfeitores tem essa capacidade de viver heroicamente e de pelos seus companheiros ser louvado e agraciado pelas suas malfeitoras proezas… Mas podera ser o objectivo de uma Naçao o heroismo? Não sera heroico quem trabalha doze horas por dia para dar de comer aos filhos, pagar os seus impostos, cumprir as suas obrigaçoes para com os seus? Não sera necessario o “viver perigosamente”. Essa e uma das poucas coisas que a “Opus Dei” viu bem. Heroismo e obedecer a Justiça, e fazer dela acçao, independente das consequencias.
Devo dizer, tambem, que desconheço por completo o conceito de democracia etnica, mas que não me parece uma conversa muito de direita (e mais parecida com as intervençoes exageradas de Afonso Costa a proposito da Raça, do que qualquer pensamento de direita que conheça…).

Carissimo Filipe BS

Pedi-lhe desculpa pelo simplismo da minha critica. Contudo os seus erros são a antitese das minhas verdades e dai que (por muito que gostasse) não mereço as congratulçoes que o amigo Mendo Ramires me deixou. Parece-me que qualquer sintese entre as minhas teses e as suas seria uma impossibilidade logica.
Espero que continue a visitar o meu blogue, mesmo com as suas criticas ferozes, mas mantenha sempre a certeza de que o nacionalismo conservador pode desaparecer, (por não ser vendavel na rua ou na tv, como essas toscas culturas suburbanas), mas as suas verdades são e permanecerao eternas.

Como se escreve por aqui nos colegios “Veritatis Fortis Est”.

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