terça-feira, fevereiro 10, 2009

Política, Prudência, Filosofia, Religião














Muitas pessoas que leram o meu artigo sobre os Perigos da Monarquia o interpretaram como um apelo ao “purismo”, uma “imprudência” ou um reflexo da minha incapacidade de fazer compromissos. Os meus textos não são políticos, no sentido em que não estão contaminados pelo compromisso de que a actividade política precisa para poder ser frutuosa. Pelo contrário, os meus escritos tentam ser a parte imprudente de que é composta toda a prudência, o que consiste na compreensão dos limites da mesma.
Se aqui escrevo para alertar dos perigos da Monarquia, faço-o compreendendo os limites do que é a mesma e do que a transforma em qualquer outra coisa, não podendo alguém servi-la ao servir o contrário que se esconde sob um mesmo nome.
Grande parte da suprema virtude política da prudência consiste em saber com que estado-de-coisas não se pode pactuar, pela simples razão de que qualquer acção a que procedamos não atinge qualquer fim desejável.

A política não é lugar para essencialismos. Contudo, qualquer política que não aceite o seu lugar na escala das coisas, de que as essências fazem parte cimeira e são expressão essencial da realidade, é a tal “quadrilha de salteadores” de que falava o Santo. Como já aqui tantas vezes escrevi, a comunidade política não é lugar de santificação, não tendo como objecto a Salvação das Almas (deixamos isso para os protestantes de todas as cores políticas), a eliminação ou repressão do Pecado. A essência da liberdade Cristã recai nessa divergência entre Crime e Pecado (um produto da estrutura tensional e não de qualquer aliança Trono-Altar), sendo o primeiro a violação da justiça política que afecta a comunidade e o segundo o dano da Alma sem repercussões na pólis.
Porém, toda a justiça que não se encontra fundada num elemento moral recai no Despotismo do Soberano (independentemente do número de déspotas). Dado que todas as tentativas de elaborar uma moral cívica independente dos preceitos comunitários caíram em momentos de loucura cosmopolita e que nenhuma comunidade conseguiu alguma vez ter como laços não-religiosos (ou na sua visão sobre Deus), “a Ordem da História é a História da Ordem”, não temos outra solução senão conhecer aceitar que a comunidade se funda nesses laços mais profundos e que toda a Liberdade vem da inviolabilidade do Espírito aos avanços da política.

O que escrevi anteriormente não carece de Dogma e tem a possibilidade de ser contra-argumentado. Como escreveu o Modernista, a filosofia não vem da Fé. É, contudo, um método que sem esta se encontra tão incompleto que o seu fundador compreendeu a imperatividade de encerrar a obra fundadora com uma descrição do Além. Duas faces distintas do real.

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