Descartabilidade Selectiva
O leitor João Manuel Vicente, que assídua e discordantemente lê este blogue, deixou um comentário que me parece, sintetiza o problema, as confusões e as incompreensões perante o problema das afirmações do Bispo Williamson.
«(...) um bispo que nada disse contra a Fé? (...)» ??Leio e não acredito...Por isto mesmo que não se devem passar "cheques em branco" a nínguém, ter sempre a cautela máxima face a posições "cristalizadas" (para não dizer dogmáticas e a-históricas), recear sempre as "fontes formais do bem" que, parece, na mente de alguns, por isso mesmo e só por si, são inescrutináveis e não-criticáveis, acertadas.«(...) barulho ensurdecedor para que se castigue(...)»?Mas qual castigo? Uma sanção meramente moral poderia ser vista como castigo?Por mim zero me comove que tal dito Bispo diga o que bem entender, negando a vileza máxima...Apenas me pergunto que CRISTO habitará no seu coração, na sua alma, onde se queira...? Se habitar, haverá de estar sangrante..É, porém, sustentável que se re-acolha, sem "contaminação", sem a banalização indiferente do MAL, na Igreja (tal qual regida por vontade deste Papa) tal dito Bispo? Se no "clube" a que pertencemos se acolhe também alguém que traz o MAL, isso não nos responsabiliza de algum modo, não nos deve incomodar, talvez macular enquanto lá permanecermos...?
Há aqui um conjunto de incompreensões, é certo, mas não se percebe como alguém que não percebe um problema possa seguir para condenação sumária de quem quer que seja, a não ser que se adopte uma acusação “por defeito”. Passo a explicar.
1. As afirmações do Bispo Williamson não são feitas contra a Fé Cristã. Sê-lo-iam se tivesse dito que pessoas inocentes deveriam morrer por pertencerem a uma determinada religião, que os judeus andariam “a pedi-las”, que o nazismo era obra do Senhor ou coisa semelhante. Ora, as afirmações não contêm nada de semelhante.
2. O Bispo Williamson não negou a vileza dos campos de concentração ou a retirada de direitos às populações judaicas. Negou que houvesse um plano de extermínio planeado, ou seja, qualquer tentativa semelhante seria condenável, mas que não crê em tal evento. Podemos obviamente discordar (ainda nos dão essa possibilidade!), mas não podemos ver tal afirmação como um Mal. O Mal seria se, como tantos outros, o Bispo dissesse que não há razões morais para olhar para um homicídio de forma diferente de que olhamos para uma mãe que abraça o filho. Esse sim é o Mal verdadeiro. Descrer num evento histórico sanguinário, mas achar que se tal tiver ocorrido é um Erro e um Mal, é incomparavelmente menos causador de dano do que aceitar o evento e não encontrar uma forma de a condenar moralmente, como é o caso de todos os relativistas, historicistas e niilistas (os que pefilham a adogmaticidade e historicidade de que o JMV tanto gosta...) que se mostram chocados com as declarações do Bispo.
3. O JMV pergunta se Cristo habitará o seu coração? É uma pergunta interessante. O Bispo Williamson acredita que um triste evento histórico não teve lugar, mas que no caso de ter ocorrido seria uma catástrofe. O que lhe pergunto é se considera uma catástrofe os milhares e milhares de crianças mortas em práticas de Aborto (que o JMV aceita como expressões de liberdade e de bem individual), ou se considera isso um não-evento?
Que Cristo vive no seu?
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