quarta-feira, abril 02, 2008

Os Monarcas do Povo


















Li com deleite a Irredutível Diversidade do Miguel Castelo Branco, que o Rafael em tão boa hora destacou no Nova Frente. Lia-se

“A tentação de ver democracias e "mercado" espalhados pela orbe, ao invés de permitir a criação de uma comunidade dos homens, mais importante que a "comunidade internacional" dos Estados, pode provocar o caos e uma perigosa resposta a esse cruzadismo nascido nas cátedras das universidades do hemisfério norte. Temo que forçar civilizações e culturas para as quais a democracia de feição ocidental, de ethos individualista, é sinónimo de destruição da comunidade, da hierarquia, da disciplina e outras expressões do estatismo orgânico em que sempre viveram pode redundar, não no triunfo da democracia, mas no triunfo de tiranias reactivas de magnitude por ora incalculável.”

É por essa mesma razão que não percebi o verdadeiro sentido da Monarquia e Soberania Popular.
Primeiro porque a soberania não é algo de partilhável. O Poder pode ser partilhado, delegado, emprestado. A soberania, como elemento auto-constitutivo de uma comunidade política, não.
Segundo, porque defender uma monarquia em nome da estabilidade implica uma condicionalidade grande. Nos momentos em que o conflito é gerado pelo problema do regime, o monárquico teria obrigação de se abster para zelar pela estabilidade.
Terceiro, porque a situação anterior cria um problema insolúvel. Se a Monarquia é estabilidade e defesa da soberania, não estaremos a assumir que existe uma receita universal “o monarquismo”, criando uma nova receita universal (desta vez não democrática, mas monárquica) e a destruír a “irredutível diversidade”?
Quarto, segundo esta posição o Rei não governa, não representa (é mandatado), mas modera. Modera o quê, com que finalidades, segundo que princípios? Se a soberania é popular, o Rei faz o que o Povo quer ou abandona o Poder. Estamos a falar então de uma pompa e “circunstância simbólica”. E um chefe-de-estado temporário não reflecte melhor uma vontade popular volúvel, um direccionamento momentâneo da política que a vontade popular implica?
Quinto, um Rei é amado, mas é amado pelo que é, ou pelo que se quer que seja? Qual é a diferença entre o Rei e o político onde este sujeita a acção aos amores e desamores da população?
É claro que se poderá dizer sempre que sem isto nada se faz. Mas nem isso é verdade, nem isso explica porque razão se deve defender a monarquia.

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