A Reeducação Pós-Colonial
O fundamental é a reeducação. Os portugueses têm sido sujeitos durante anos a um inculcar de vergonha sobre a memória imperial, com o intuito de criar uma paz espiritual com um presente. Esta fez-se de várias maneiras, quase sempre de gravosos erros morais.
Uma proposta reeducativa foi o Historicismo, que se consubstancia na ideia de que não havia nada a fazer, que os “Ventos da História” estavam contra nós e que o abandono ultramarino era inevitável. Esta tem em si uma parcela verdadeira, mas uma parcela profundamente amoral. É bem verdade que os ventos da História estavam contra nós, mas também estão contra a Venezuela, Cuba e outros países que ainda hoje se colocam à margem do consenso internacional. Para além disso esta situação não permite que ninguém pense sobre a justiça da sua conduta, mas apenas sobre o que irá ter acolhimento no futuro. O que equivale a afirmar que onde exista uma genocídio ou uma violação grosseira do direito de outrém, o que teremos de fazer é o que pensamos que terá acolhimento no futuro. Se o futuro é o genocídio, devemos abraçá-lo de braços abertos. Quando o futuro fôr vender os familiares a prestações...
Por outro lado e com muito acolhimento em alguns nacionalistas mais impreparados e espíritos mais fracos, cativados pelo simplismo das suas proposições, está o nacionalismo terceiro mundista. Este funda-se nalgumas ideias modernas, o predomínio da vontade, e o colectivismo da acção, defendido pelo socialismo mais despudorado.
A ideia é simples. Para a obtenção de uma comunidade, com possibilidade de obter soberania, basta que exista a vontade de um colectivo. Ora isto não é nacionalismo nenhum, nem nenhum pensamento sério sobre a natureza das comunidades políticas. É a antítese de uma Nação, porque ao colocar os vínculos entre as partes no domínio da vontade, estabelece uma relação de utilidade entre os membros de uma comunidade que é a de uma empresa. Com esta ideia de que a comunidade repousa na vontade colectiva, vem também a ideia de que a propriedade é passível de apropriação por esse acto de vontade... se a lealdade política o é... E esta é uma ideia de que a comunidade não existe para preservar um direito anterior da comunidade, prévio e superior, mas que está ao alcance dos desejos maioritários a posse da propriedade de outros, o que representa que as relações políticas se encontram no domínio da “guerra de todos contra todos” e não numa comunidade nacional.
Como é fácil de ver, a ideia é muito jeitosa se se pretende estabelecer um domínio a nível global. Assim que alguma parte de um Estado descobre uma riqueza ou uma oportunidade estratégica, pode declarar independência, revertendo os benefícios do bem para uma parte pequena da comunidade. Vêm daí os nacionalismos plebiscitários, referendários, terceiro-mundistas, altermundialistas e restantes disparates que parecem ter muito acolhimento entre as moderníssimas hostes nacionalistas portuguesas, sempre em busca do último disparate para aderir. É o “nacionalismo-velcro”, que prefere a adesão a saber a que é que se deve aderir.
Existe ainda outra forma de reeducação, verdadeiro gulag intelectual, que provém do marxismo e de todas as suas seitas subsequentes. A ideia de que a presença portuguesa era um sistema de opressão é uma paródia, porque equivaleria a considerar que todos os habitantes das colónias eram colaboracionistas de um sistema de repressão violento. Quem observar um mínimo da história colonial portuguesa vê que um dos maiores propósitos é manutenção dos modos de vida tradicionais das populações. O mesmo propósito que parece agora cativar todas atenções dos pós-modernos das análises pós-coloniais... Tais estudiosos, numa fantástica acção de marketing (de criar inveja ao capitalista mais sanguinolento), criaram o seu próprio mercado. Primeiro defenderam o fim da opressão dos povos do jugo imperialista. Agora, após o triunfo dos movimentos políticos que tanto apoiaram, peroram sobre os problemas da destruição das narrativas e tradições que enquadravam as vidas daquelas gentes. Há gente com olho...
Agora reina na África Portuguesa a mais seráfica das justiças, a mais florescente das felicidades. As populações, urbanizadas à força, deixaram as comunidades tribais (que nenhum lucro davam à metrópole, o que diz muito da exploração portuguesa ...) para se acumularem junto ao lixo, nos musseques, vivendo em árvores, dormindo no chão, comendo o desperdício dos altos-funcionários do Partido.
A Economia, que era para todos os marxistas a razão da independência colonial, desmentiu-os. Mais fome, mais desemprego, mais trabalhos degradantes e escravizantes a benefeciar as empresas chinesas, mais gente a viver vidas de amoralidade e de prostituição, mais gente com SIDA, acompanhada por um desculpabilizador discurso de falta de auxílio internacional.
Para quem acabou com a opressão e instaurou a liberdade, não está nada mal...
Qualquer destas propostas de reeducação caminha para a catástrofe. Obliterando a possibilidade dos portugueses compreenderem os erros destas formas de pensar, encontramo-nos a um passo do suicídio. E ninguém pode fazer essa escolha por nós. É a escolha da sobrevivência.
Etiquetas: Modernidade, Nacionalismo
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