quinta-feira, junho 21, 2007

O Fusionismo e a Manutenção da Separação

















Levanta a atentíssima Cristina Ferreira a questão da compatibilidade entre o liberalismo e o conservadorismo. Já escrevi aqui bastante sobre o fim do fusionismo (que foi sempre mais uma união de facto que um matrimónio) e a forma como o liberalismo e os seus teóricos se incompatibilizaram com as posições conservadoras (morais) ao postularem a liberdade individual como finalidade da comunidade política.
A situação não se alterou e é cada vez mais evidente que os caminhos do liberalismo e do conservadorismo se encontram cada vez mais separados tanto na teoria, como na prática.
O liberal rejeita absolutamente qualquer introdução de um elemento moral no seio da sociedade, considerando que a única esfera valiosa é a individual. Para além disso pode aceitar tocquevillianamente um conjunto de símbolos sociais, mitos, ou religiões (reduzidas ao papel de superstições ou “mitos do Hades”), mas apenas com o intuito de sustentar a ordem das liberdades individuais.
Esta concepção representa a absoluta antítese de uma concepção jusnaturalista e Cristã, de uma defesa da comunidade como universalidade representante de e condicionada por um Universo maior.
Se o liberalismo coincide com o conservadorismo nalgumas coisas, não percorre certamente o mesmo caminho. O liberalismo pretende minimizar o papel do Estado, mas não tem nada que preencha esse espaço para além do vazio. Acha que o homem-vazio pode viver de forma independente e livre do Estado sem uma concepção de vida comum. Considera o “rule of law” como fundamental, mas torna a lei um mero reflexo da vontade humana ou de uma ordem insondável, frágil e passível de remoção pela fonte de poder originária.
Resumindo, o liberalismo não consegue, nem pretende, obter os mesmos fins que o conservadorismo, porque se afastou do elemento fundamental que a caracteriza, a Justiça.

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