segunda-feira, abril 23, 2007

Mais Sucata Ideológica























Há uns anos foi proclamado por muitos politólogos o fim das ideologias. Ao observar a queda do muro, perante este lado vencedor, mais pragmático, muitos homens de visão proclamaram a ideologia extinta, pelo simples facto de a não conseguirem ver.
Não a conseguiam ver por adoptarem uma perspectiva objectivista e racionalista dogmática, absolutamente ignorante de que para a sustentação de uma observação o sujeito também conta e deve contar. Ao confundirem a boa-fé científica com o positivismo, os cientistas esqueceram que todo o aparato conceptual é uma construção não neutra e que ela própria é condicionadora da verdade objectiva.
Quando se fala de fim das ideologias não se está, infelizmente, a falar apenas das ditas. As ideologias, pensamento que reduz a realidade a um desejo ou concepção sobreposta à realidade, são uma coisa a ser abolida, mas o que se pretende agora com essa ideia é retirar todo o elemento de racionalidade, que não seja o auto-interesse e a funcionalidade, da escolha política.
O problema, como é evidente, não está nas ideias, mas no critério que preside à escolha. Hoje na TV, uma militante de bases do CDS congratulava-se com a ideia de que o partido agora poderia ir buscar soluções à esquerda e à direita. A confusão é evidente!
Todos os partidos podem ir buscar políticas e soluções a outros campos, desde que estas não entrem em atrito com os princípios que os partidos visam defender. Mas quando se reduz um partido à sua mera funcionalidade, sem ideia de que este apresenta a finalidade de alcançar o Poder com o intuito de fazer algo que excede essa luta, está-se a aceitar como paradigma um utilitarismo que vai contra toda a concepção saudável e tradicional da política. Não compreender que toda a política é moral e implica ideias e princípios (o que é a justiça senão um critério?), é fazer o jogo da discricionaridade e da política como actividade de cariz técnico, que sempre foi apanágio das esquerdas...
O grande legado da ideologia encontra-se nessa redução do mundo à funcionalidade, que simula uma neutralidade para esconder os seus verdadeiros propósitos.

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