sexta-feira, abril 20, 2007

Terapias de Substituição
















Através de disfarces o regime vai continuando. Ele não é a defesa da anarquia e do poder popular, como durante tantos anos a direita mais míope pensou. É a ditadura do vazio, que é uma réplica subreptícia de tudo o que tivemos de mau no século XX, mas com bens de consumo.
Diziam-me que a diferença entre o Estado Novo e Abril era a existência de uma polícia política. É verdade, mas basta que se tipifiquem na lei comum crimes de consciência, para que uma polícia se assemelhe funcionalmente à PIDE.
Não me parece que exista alguma dúvida de que uma grande parcela dos males do Estado Novo foi a impreparação dos censores e da polícia política. Gente impreparada e analfabeta estava sempre disposta a usar o lápis e a “conversinha” para dissuadir todas as ideias que não conseguiam compreender, mesmo as que não iam contra os princípios da ordem pública. É isto que me vem ao espírito ao ler que foram apreendidos exemplares do Triunfo dos Porcos de Orwell na sede do PNR.
Se fico sempre feliz quando há operações contra o tráfico de droga e contra a posse ilegal de armas bem sucedidas (aguardo os resultados desta e o número de condenações), fico mais preocupado quando se pune a posse de livros. A Biblioteca da CML tem várias edições do Mein Kampf, assim como a Biblioteca de qualquer universidade tem de possuír uma quantidade de escritos anti-semitas e racistas. Estarão a fazer difusão de mensagens de ódio? E o que dizer da iconografia de defesa do tráfico de estupefacientes que todos os dias encontramos nas ruas sob a forma da folha de “cannabis”? Porque não é esse apelo a uma prática criminosa atacado como os portadores de suásticas e de mensagens racistas?
Da minha mente deformada não sai nunca nenhuma defesa da “liberdade de expressão”, porque não o considero como um direito em todo o tempo e lugar. Aceito restrições à liberdade de expressão, mas apenas em casos que não sejam de consciência, mas de perigo real (atentado à vida, propriedade, bom nome) que represente uma ameaça política. Aceitaria todas estas acções se elas representassem um perigo maior que o que é gerado pelos ódios de classe instigados por Louçã, Odete Santos e comparsas.
Aceitaria tudo isto de bom grado se não me viessem com a conversa das liberdades de consciência e da democracia...