quinta-feira, abril 19, 2007

Partidos e partidos













Parece-me que, apesar de palavras com ressonâncias diferentes, todos concordamos no perigo da partidocracia. O perigo não está na existência de partidos (posições distintas e agregadas com vista à obtenção de finalidades políticas), mas na divinização do Partido como alfa e ómega do horizonte político. É certo que os amigos GdR e Réprobo têm razão no que respeita à “guerra civil partidocrática”, mas esse é problema que só existe onde o Estado não baliza e limita as opiniões em prol do Bem Comum. Por mim, todos os partidos que se mostram como defensores da dissolução da soberania de Portugal atentam contra a comunidade, assim como todos os que não vêem como norma o benefício da comunidade e a manutenção de suas liberdades. Isto não é democrático? Também não o foram todos os homens que construíram Portugal até à I República e não consta que fossem piores governantes e menos virtuosos que os que temos agora.
E vejo aí tanta gente a falar da herança democrática e constitucional anglo-saxónica que estranho não ver mais vezes as expressões “test act” e “sedição”, como parte integrante dessa nobre tradição. Já pensaram porque razão o Labour não é um partido socialista como os demais?
O perigo do partido é tornar-se Partido. No Estado Novo houve partidos… e muitos. Apesar da falta de consubstanciação formal os partidos agiam com particular veemência, basta que se veja o sucedido no “golpe” após o acidente de Salazar.
Parece-me que o problema reside precisamente na sua consolidação jurídica e na ideia “eastoniana” de que eles devem fazer o enquadramento político dos futuros governantes. Quando o Partido leva ao Povo a política que este gosta, cargos, honrarias e ajudas de custo, está tudo preparado para um festival de egoísmos e auto-interesse que é o oposto da vida em comunidade e partilha.
Quando esta acção de enquadramento político vem acompanhada de um monopólio da participação cívica, o risco de se defenderem oligarquias em vez dos interesses comunitários aumenta exponencialmente.
Haverá sempre partidos. Mas fazer um sistema político e a governação depender deles é consagrar a política como um jogo que toma a luta pelo Poder como o todo.

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