As Ideologias e o Falseamento do Real
Quando o pensamento está cerceado na origem dizemos que estamos perante Ideologia. Esse fenómeno ocorre quando a vontade comanda o horizonte do Homem, quando os seus desejos têm a capacidade de inquinar o seu pensamento.
O fenómeno foi observado por Platão, personificado na figura de Glaucon, o timocrata, jovem e ardoroso, comandado por um desejo que não necessariamente do Bem. Esse exemplo é particularmente importante numa época em que se sacrificou a realidade ao desejo humanitário (o séc. XX e o materialismo marxista) e na nossa idade, em que se sacrifica a realidade e a sua estrutura ao anseio de paz social, recorrendo à ideia de que não existe qualquer razão boa para sustentar ou recusar qualquer coisa.
Quando já todos proclamavam o fim das ideologias verificamos que encontramos o seu apogeu. Antes havia duas, agora há muitas mais. Quase tantas quanto os desejos de cada um. A naturalidade com que se falseia o real para que este corresponda ao desejo (e muitas vezes às taras de cada um), em consagração às sacrossantas liberdades e originalidades do nosso tempo, não pode senão gerar indignação e revolta. Não o faz, pela aridez das mentes que nos dominam pela política.
Contra isto não há lei. Há apenas a necessidade de reafirmar a verdade, que não se situa ao nível dos nossos desejos. A sua superioridade é o único garante da Liberdade.
Não aceitar dogmas intra-mundanos e políticos é hoje tão importante quanto perceber a forma como se manipula o real para resultar no que se deseja, tantas vezes um mal absoluto. Sem estes dois pontos de apoio não há esperança de Liberdade.
Etiquetas: Modernidade, Pensamento Tradicional
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