quinta-feira, dezembro 07, 2006

Os Futuros e Salazar






















Quando houver novidades do programa dos Grandes Portugueses ficar-se-á a saber que entre os maiores de sempre estão obscuros actores dos Morangos Com Açúcar. Será mais uma vitória da democracia, daquele regime que faz da vulgaridade uma religião, que substitui o “the king can do no wrong” dos alvores do despotismo monárquico, por uma crença panteísta nas capacidades de uma maioria. Quem tiver dúvidas de que é assim que se fabrica um Chavez, pode continuar a cantar louvores às cruzinhas como grande progresso civilizacional...

Como dizia o Manuel Azinhal “nós nunca fomos assim tão salazaristas, nem conhecemos ninguém que o fosse”. É bem verdade! Nas “direitas” portuguesas ninguém nunca olhou para Salazar como o fim do caminho, mas como um maestro político que permitia um equilíbrio entre os desejos lícitos de vários grupos e uma sociedade pacificada, onde se salvaguardava o legado dos nossos antepassados. Que o equilíbrio era permitido por uma personalidade vincada e um político de rara habilidade, todos sabem. O que me parece que alguns esquecem é, como me lembra habitualmente o leitor Fernando Lemos, a forma como o próprio Salazar via o Salazarismo e todos os "ultras" que na sua cegueira não viam para além da obediência à Autoridade. Foram muitos os casos em que o Presidente do Conselho retirou a sua confiança a elementos do seu Ministério por considerar tratarem-se de gente inflexível, desprovida uma concepção maior. Creio que muitos leitores conhecerão estas histórias, nomeadamente no que respeita a pessoas vivas e que, vítimas da sua prepotência, ainda hoje fazem luto e reconhecem razão ao Senhor Professor.

Não creio que Salazar tenha sido o maior Português de todos os tempos. Penso até que Salazar teria achado a ideia ridícula... Não tenho, porém, qualquer dúvida de que a votação que Salazar terá obtido no programa se deve, em grande medida, ao insulto à sua memória e à de um Portugal que queria ser mais, que aceitava o pesado legado de seus avós. Nesse aspecto Salazar, pelos seus dons políticos, conseguiu trazer para o século XX a honra de uma Pátria.
O Estado Novo não era o Portugal imaginado por Salazar. Salazar terá sido pouco salazarista... Talvez até menos do que deveria ter sido! O Estado Novo era o Portugal possível, que estabelecia o equilíbrio virtuoso entre o sonho e a degenerescência da Ideia Pátria de seu tempo.

Pena que os jornais não se tenham apercebido da queda de uma das Máscaras que lhe são imputadas. Ninguém fala sobre a inocência de Salazar na morte de Humberto Delgado, o que diz mais acerca do nosso Portugal do que centenas de estudos sociológicos e censos.

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