O Maior Défice
(escrito alguns dias após a data histórica)
Um défice dos nossos partidos de direita é a ausência total de ideário. Nisto não há bons nem maus... todos "igualinhos"!
Estas refundações não existem, são meras actualizações ao espírito do tempo, às conversas de café mais recentes, às banalidades infundadas que convêm à dicotomia dos bons e dos maus.
O Manifesto da Direita é por isso tudo o que se esperava dele. A tentativa de tornar um partido, neste caso o PND, o porta-voz eleitoral do movimento Atlântico (leia-se "direita acidental") é um episódio. Está longe de ser o dia histórico que Manuel Brás anunciou no jornal do PND!
Ainda que Monteiro se tornasse o líder de todos os órfãos da Direita, ainda que Monteiro conseguisse que Marcelo o dissesse de direita moderada, ainda que fosse convidado à mesa do MFA-Partidos, o vazio manter-se-ia.
Os "liberals mugged by reality" que Manuel Brás menciona no seu artigo não são os liberais de direita, mas os Sócrates e os Blairs que se apercebem de que um governo de esquerda clássica impede a produtividade. As preocupações são de esquerda, o argumento é meramente funcional. É uma direita circunstancial... acidental.
As estafadas distinções, criadas quase totalmente por ideólogos de esquerda, entre segurança-liberdade (como se a liberdade não proviesse da capacidade da comunidade política defender os direitos de seus membros), conservadores-reaccionários (os que respeitam a tradição, não lhe ligando nenhuma, e os que defendem o regresso à carroça ou à Idade da Pedra), pessimistas-realistas (os pessimistas que não reconhecem um homem santo, os realistas que possuem um olho clínico e, apesar de não possuírem aparato conceptual para tal efeito, produzem julgamentos precisos sobre quando se é bom ou mau), modernaços-botas de elástico (bons e maus), tentam criar a ideia de que "A Nova Direita introduz no conservadorismo a dimensão intelectual e a base argumentativa". Notável asserção relativa a uma forma de pensar com centenas de anos...
Um dos pontos mais reveladores do Dia Histórico da Direita Portuguesa é a afirmação da necessidade de recentrar o sistema político português. Ao invés de Direita temos Centro, na velha e doce melopeia de que o demo-liberalismo é um sistema neutro, de que a democracia de massas e telecrática é o elemento mais importante a salvaguardar na acção política.
Importante porque revela que esta "correnteza" de pensamento não é conservadora-liberal, mas liberal "tout court". Tradições sim, folclore sim, mas desde que o fundamental seja preservado! O que há a preservar? O direito à liberdade e a dispor de si...
Mas para que servem as tradições se a liberdade individual as pode subverter?
Um conservadorismo notável, que não é senão o Centro a tentar conquistar a Direita.
Algo de que o PND se vangloriava quando dizia, com maior sinceridade, ser um partido de classes médias, sem ser esquerda ou direita.
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