O Lado Errado do Conservadorismo
Manuel Brás escreveu (não tenho a presunção de pensar que em resposta ao meu anterior post sobre a Nova Direita) um artigo na Aliança Nacional que visa demonstrar que o Neoconservadorismo será a parte intelectual, uma fundamentação, do Conservadorismo. Segundo MB o Conservadorismo estaria demasiado centrado em questões economicistas, em matérias pouco reflexivas, vindo o Neoconservadorismo colmatar essa lacuna, contrariando a natureza imprecisa e anti-ideológica do movimento. Intelectuais contra burocratas.
Não me parece interessante regressar aos erros do Neoconservadorismo. Importa apenas corrigir um erro fundamental sobre a família conservadora de pensamento.
Não sei, com sinceridade, a que autores conservadores se referirá MB. O que posso assegurar é que todos se insurgem contra a afirmação do Homo Economicus. Quem não acreditar no que afirmo pode verificar as observações de Burke sobre o Capitalismo, o “Governo dos Simples” (Letters on a Regicide Peace I), de Tocqueville sobre a necessidade fundamental de uma crença espiritual para o funcionamento da sociedade (Democracia na América), a necessidade da defesa da comunidade política contra o poder económico, a prioridade ao Homem e ao Bem, que remete a economia para o serviço da Política (como é o caso de todos os doutrinadores católicos), o anti-progressismo e anti-desenvolvimentismo dos Southern Agrarians, a defesa da Nação como portadora de cultura e tradição, como Ser enquadrador do Homem na ordem das coisas, reflectida pelo Romantismo Inglês (Coleridge, Wordsworth) e trazida para o século XX pela obra de Solzhenitsin.
Presença constante nestas referências e mesmo nos contemporâneos está sempre uma reflexão sobre o Homem, sobre o Bem, sobre o papel da política na realização das finalidades humanas (mesmo nos contemporâneos Kirk, Voegelin, Strauss, Babbit). Por todo o lado se encontra no Conservadorismo uma reflexão filosófica (anti-ideológica, certemente). Pelo contrário, o Neoconservadorismo apresenta-se como um movimento anti-filosófico (tendo muitos cientistas sociais, historiadores, técnicos, não tem um único filósofo como figura de proa), uma vez que não busca respostas na Verdade, mas busca uma justificação do funcional. Para um Neoconservador o Divórcio ou Homicídio não são questões de princípio ou questões morais, mas matérias de funcionamento da sociedade.
São, por certo, duas abordagens distintas. Uma fundada na cultura e na Filosofia Ocidental, outra, ao estilo marxista, fundada em balancetes, sondagens e extrapolações prospectivas.
O que é impossível é afirmar-se que o Conservadorismo clássico não dispõe de uma argumentação própria... ou que precisa do funcionalismo Neoconservador para alguma coisa.
Etiquetas: Conservadorismo, Direita, Modernidade, Pensamento Tradicional
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