terça-feira, março 17, 2009

Gnose no Concílio














«Providence is leading us to a new order of human relations that...are developing toward a fullness of superior and unexpected designs»

«preparing and consolidating the way toward that human unity which is a fundamental necessity because the earthly City is constructed to always resemble the heavenly one "in which truth and the law of charity reign, and is the extension of the Eternal One.”»

João XXIII “Alocução Inicial ao Concílio Vaticano II”


Muitos amigos meus, uns leitores deste espaço, outros nem por isso, decidem de quando em vez mostrar-me que não existiu no Concílio Vaticano II qualquer corte com a Doutrina e Tradição da Igreja. A matéria é difícil dada a propositada nebulosidade da sua natureza. Assuntos há, porém, em que a dificuldade de análise é quase nula e em que as afirmações dos responsáveis são tudo menos nebulosas, demonstrando as reais intenções e conceitos que subjazem a essas construções.
No caso das supracitadas afirmações da Alocução do Papa João XXIII o significado é evidente: a unidade terrena da humanidade teria um qualquer significado cósmico e constituiria um imperativo da Igreja. Um raciocínio gnóstico em essência tornou-se mote essencial do espírito conciliar e das interpretações inchadas que deste se fizeram.
É evidente que a Unidade do Género Humano não corresponde a qualquer desígnio cristão, primeiro porque não existe nenhum sentido na História (havendo nesta limites) e não nos encontramos invariavelmente a caminho de uma unificação com Cristo, em segundo, porque a unidade transcendente do género humano não implica quaisquer formas terrenas.
Se a primeira consequência corresponde aos erros do gnóstico Chardin, que viu nas coisas mortais a fonte de todo o caminho para Cristo, a segunda implicação é de feição claramente milenarista e um reflexo ideologista claramente abstruso, que conduziu à emergência das seitas protestantes e das grandes religiões políticas. Acreditar que a construção humana deve emular o Paraíso sempre foi o grande desígnio protestante. A comunidade de santos, protestante, revestiu-se posteriormente de muitas outras formas (raça eleita, super-homem, proletário…) que sempre correspondiam a um ideal de emulação do Reino Divino. Esta fórmula, a Utopia, corresponde sempre à transformação do Homem em Santo, da sociedade em convento, do Eu em Deus, crendo que a emulação terrena das condições do transcendente aproxima o Homem da sua finalidade.
Na citação o Papa João XXIII aceita esta fórmula de pensar, acreditando que a unidade Humana, mesmo que desviada das finalidades cristãs, representa, de qualquer das maneiras, o Amor Divino, o que constitui não apenas um erro grave, como implica uma unidade com Cristo fora do Cristianismo. Implica também que a expressão do Amor de Cristo se faz de fora para dentro, ou seja, é um reflexo de Cristo no Mundo e não da Palavra nos espíritos que modelam as coisas terrenas. Será mesmo que existe mais Cristo numa união humana laica, na Cosmópolis social-democrata ou na Paz Perpétua, do que em dois Cristãos que se amam segundo os Ensinamentos e a Palavra?

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