quinta-feira, março 05, 2009

Comunidade de Fé

As palavras do Senhor Dom Duarte na conferência do IDP não podem deixar de espantar qualquer monárquico, ou sequer qualquer português com dois dedos de testa. Segundo os princípios que enunciou, o Príncipe (ou o que deseja sê-lo), o primeiro dos portugueses, aparece transfigurado no “primeiro dos democratas”. A gravidade de tudo isto é que um português é um português, alguém que voluntária ou involuntariamente se insere numa ordem política. Por seu turno, um democrata é alguém que acredita num sistema. Ou seja, o Senhor Dom Duarte acredita que Portugal é uma comunidade de fé, mas uma comunidade que tem fé na política e num regime, pertencendo então Portugal (este, em que acredita) ao domínio da seita e não ao domínio das Nações. Em boa verdade o IDP é uma igrejinha e o seu sumo-sacerdote um profeta de um regime político.
O ridículo de tudo isto provém não da forma como eu retrato estas afirmações (não tenho génio para isso), mas da parola obamização que o discurso de SAR tem vindo a sofrer. Acreditar que Portugal é uma crença num regime constitui ofensa grave a todos os portugueses que, por acaso, não se encontram vivos. É esta mentalidade de seita que distingue os monárquicos dos republicanos?
A todos os que falam da independência do Rei nas monarquias, eu gostaria de perguntar se de um rei que aceita dizer enormidades em público para beneficiar um instituto, se deve esperar qualquer independência quando for com instituições estatais?
E já agora gostaria de perguntar aos monárquicos, relembrando a questão levantada pelo Modernista, se o idílio monárquico-constitucional foi um momento tão bonito, porque é que não reactivamos a Constituição de 1822? Já estão assim tão desesperados que queiram fazer passar um dos piores momentos da História de Portugal por idade luminosa? Depois dizem que a culpa foi da Salazarquia…

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