No Vale das Sombras
O Mundo assistiu ontem à grande missa laica de entronização do seu rei. Não duvido de que muitos se reviram naquela cerimónia confusa de patriotismo, religião e idolatria. Carregando dores de pessoas que não existiram, injustiças históricas que não compreendem, mas que compraram com medo do “universalizável” kantiano, os povos do mundo uniram-se hoje para celebrar um futuro que não conhecem.
Quem percebe a política dos últimos sessenta anos pode perceber o triunfo desta mensagem vazia. Transformados os últimos portadores de uma civilização em consumidores, em meros receptáculos acríticos dos impulsos sensuais veículados pelos meios de comunicação, em servidores do conforto, em seres incapazes de aceitar qualquer norma de conduta que não assente nos seus caprichos mais infantis, chegou a altura de criar um povo mundial. Removem-se as culturas, as crenças profundas e fomenta-se um desejo de ser como o outro e caem finalmente as ordens políticas e as comunidades de sentido sem as quais não há Justiça. Todo o Progresso foi erguido por este desejo de ser o outro, de renegar raízes, e este só se consegue através da criação de um pesadelo de que a igualdade e a liberdade libertam.
Qual é o povo desta Terra que não deposita mais esperanças em Obama do que nos seus próprios governantes? Qual o povo que não preferiria ser uma estrela cosida no “star spangled banner” do que aceitar a escassez que o atormenta? Quantos povos não estão dispostos a esquecerem-se de si para que tenham mais poder, mais dinheiro, mais pão?
O homem vazio é o grande apoiante do Tirano e o cosmopolitismo o seu regime. Ver milhares de africanos nas ruas a celebrar um presidente americano que não conhecem e que defende medidas que serão muito prejudiciais aos países africanos (o capitalismo de Estado significa a estagnação das economias africanas) é apenas um prenúncio sinistro de uma “vontade popular legítima” desligada da realidade e de qualquer obediência racional, movida pelos tribalismos e racismos (a identificação da raça como factor preponderante da identificação individual) que muitos afirmam que acabarão com Obama. Tudo isto é demasiado ridículo, mas continua no sentido do esvaziamento dos conceitos imperativos de que se fazem as comunidades e o seu cimento real, a Justiça até à criação da massa amorfa e da grande máquina (impessoal e utilitária) que a adestra.Quanto mais vazio o homem, mais capacidade tem a máquina de o satisfazer, sugando-lhe assim a vida para a obtenção de finalidades meramente pessoais. O Tirano, ao contrário do que se diz por aí, é perfeitamente consentâneo com as vontades pessoais e da maioria. A diferença entre um Tirano e um Governante Legítimo não tem relação com os desejos da maioria e da minoria, mas com aquele que funda a sua acção numa Construcção Maior. Uma lição dos Antigos que os Modernos irão pagar caro...
Etiquetas: Comunismo e Socialismo, Modernidade
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