segunda-feira, janeiro 05, 2009

Orgulho no Preconceito














Há uns tempos numa dessas telenovelas da ficção nacional havia (imagine-se a originalidade) dois irmãos que tinham iniciado uma relação amorosa. No meio dos dramas que desta surgiram, surgiu uma voz, um amigo dos sujeitos em questão, de perfeita clarividência modernista. Do alto da sua sabedoria questionou os seus amigos sobre a razão por que estes não levavam a sua relação em diante ignorando todos os preconceitos e práticas estabelecidas. Porque se haveriam os amantes de submeter às concepções de amor, família e sociedade de outros? Porque razão não poderia o seu amor superiorizar-se às convenções sociais e religiosas?
É evidente que na telenovela em questão o autor acabou por fugir à questão. No meio de tanta conversa de fim dos preconceitos e das formas de vida que não são escolhidas pelos indivíduos, veio-se a demonstrar que estes não tinham laços de parentesco e a discussão tornou-se irrelevante para o desfecho. A questão, porém, perdura com toda a acuidade. Apesar do autor da novela ter decidido manter este preconceito como parte essencial do enredo, e apesar de saber que todos os preconceitos não têm razão de ser, não criou nesta questão um ensinamento que levasse a sociedade (da telenovela) a agir melhor. Quando comparada com o uso de drogas, a homossexualidade e outras práticas que as várias personagens da novela vão aprendendo (sendo repreendidos por outros) a aceitar como meros convencionalismos, a reacção do autor é claramente branda e deixa que toda sociedade permaneça sem eliminar esse último bastião do preconceito e do moralismo (um palavrão no léxico modernista).
A questão é muito interessante e mostra bem como toda a pseudo-moralidade moderna é um ídolo com pés-de-barro. É evidente que o argumento eugenista que tantas vezes é aduzido pelos secularistas para serem contra o derrube deste tabú da sociedade, a probabilidade de nascerem filhos deficientes, esbarra com um conjunto de ilogicidades. Quem pode ser contra a convenção social e depois proceder a uma selecção societária de critérios de normalidade física que impedem os pais de se reproduzirem? E quem defende que um Estado tenha capacidade para determinar a esterilidade dos cidadãos, não defende que não existe qualquer forma de liberdade a salvo deste?
Sem a presença de um elemento religioso-moral como é possível que se impeça o amor entre duas pessoas que se amam e querem viver como conjugalmente? Não terão estes o direito de estabelecer nietzscheanamente as fronteiras e limites do seu amor?
A fonte de toda a liberdade vem da aceitação dos limites do Eu e quem não aceita os limites arbitrários da família para a ordenação da sua vida e do seu amor, será por certo um pai tão extremoso que não deixará de ter intenções amorosas com os seus filhos, um neto que pretende eliminar a concorrência do avô no coração de sua avó e uma mãe para qual o filho é uma potencial fonte de prazer sexual. O Inferno na Terra está ao alcance dos destruidores do preconceito, com a cumplicidade dos que acham que o Cristianismo acaba à porta da igreja.