quarta-feira, dezembro 03, 2008

O Capachinho

O Liberalismo é uma forma de Bem postiço. Tenta desligar a comunidade das suas percepções de Bem, para tentar impor uma sociedade em que a Verdade e o Bem são meras expressões da funcionalidade e do interesse dos cidadãos. O Liberalismo é forma má de obter algumas coisas boas (segurança, propriedade, autonomia), mas que impede o homem por completo de compreender que se insere num mundo que lhe é exterior. O profundo autismo em que a Teoria Política da actualidade vive, repleto de axiomas igualitários (a filosofia da inveja) e libertários (a filosofia do egoísmo) que vêm de vícios universalizados sem qualquer critério, é apenas um reflexo dessa loucura da separação da discussão sobre o Bem e a Virtude. Ao pressupor um desejo de igualdade ou de liberdade que não é passível de ser discutido em termos racionais e inserido numa reflexão sobre as finalidades humanas, mas com base em perspectivas e desejos que são reflexo de perspectivas individuais.
O comunitarismo, sendo uma posição teórica e não uma ideia política, é insuficiente para se opor a este estado-de-coisas. Quando articulado como mera perspectiva situada encontra os mesmos problemas que o hegelianismo, ou seja, faz uma apologia do que "é" e nisso não se distingue do liberalismo. Por isso não sou comunitarista, nem nenhuma das pessoas que defende uma posição de primazia dos significados partilhados e que estes se enquadrem numa estrutura que transcende a perspectiva humana (MacIntyre, p.ex.) o é. Ao afirmar a primazia da comunidade, dos significados partilhados pela comunidade, apenas se afirma o predomínio do compreensível ao incompreensível, a defesa daquilo que as comunidades tomam por bom. Isto já não é pouco, por assumir como elemento essencial da comunidade a visão que cada cultura tem sobre no que consiste a realização mais elevada do Homem. Mas também não é suficiente, porque se tal visão for tomada como mera visão de diversidade ou exotismo, nenhuma posição pode adquirir um valor real que possa transcender a suposta neutralidade do liberalismo. Ficaríamos assim na mesma.
O que é necessário é uma visão que abranja as várias expressões comunitárias, numa unidade de sentido superior às suas particularidades. Porque mesmo as comunidades que não possuem um Critério, precisam de ser consideradas na sua relação com a perfeição.
Para pôr a questão nos termos straussianos (com que não concordo) do leitor João, é preciso mais Roma, porque esta é, como tem escrito o Papa Bento, Atenas e Jerusalém.