Sobre os Não-Matrimónios
Sobre os casamentos homossexuais já se disse quase tudo e muito do que se disse não merece a pena ser recapitulado. É simplesmente idiota que se apresente a questão do casamento como uma questão de liberdade de escolha, dado que o objectivo deste é cercear os comportamentos da sociedade obrigando a que as pessoas se comportem de maneira a que alguns princípios sejam salvaguardados. Daí é fácil perceber que toda 80% da conversa que ouvimos nas televisões e nos jornais de referência são para enviar para o lixo e não merecem sequer ser habilitadas por uma resposta. Quando se apresenta às convenções políticas a ideia de liberdade de escolha como sua suprema orientação é fácil de ver que nenhuma subsistirá. O objectivo não é, como é evidente, mudar o casamento, mas destruí-lo de vez.
Há um problema central na questão que é o problema do casamento enquanto figura autonomizada e secular da vida humana. O casamento civil enquanto elemento desprovido de religiosidade é uma paródia e uma perversão. Uma perversão quando se transformou em instrumento do Estado para conseguir a ordenação social. Retirou-se o significado religioso e transcendente da união carnal entre dois seres humanos, mas para que tudo se mantivesse na mesma e de forma gerível, criou-se a ideia de que o casamento seria uma instituição em que o valor essencial seriam as suas finalidades mundanas, a gestão das necessidades privadas, procriação, estabilização da propriedade. Uma paródia quando se observa a forma rídicula como a união de duas pessoas obedece a um cerimonial de Estado que é um sucedâneo religioso, mas que sem a existência de Deus não tem qualquer justificação, para além dos interesses do Estado.
É do falhanço dessa ideia de união autónoma e meramente humana que vem o contra-senso de uma convenção que se altera em virtude da autonomia. Se o casamento é obra meramente humana poderá ser alterado para ser um reflexo das vontades das partes, acabando com todas as obrigações com um estalar de dedos. Antes seria um estalar de dedos do Estado, com a nova estrutura legal do casamento e divórcio basta o dos privados. De qualquer das formas, não existe qualquer forma para que o casamento civil perdure enquanto forma de organização social. Dada a incapacidade da proposta ética secular de criar uma sociedade moral, capaz de cercear os desejos individuais, tornou-se impossível manter o casamento como fonte de obrigações extra-subjectivas e voluntárias.
É por isso que me desmancho a rir com os argumentos da “direitinha” que acha que a utilidade da família e a justificação para a sua estrutura é a utilidade do Estado e o cumprir de uma série de tarefas. São os mesmos que defendem a paternidade subsidiada e não percebem que com a mudança de finalidades do Estado vem uma mudança de finalidades da família, caso esta se encontre sob a sua alçada. A família democrática, ao ser apenas um reflexo do que a sociedade deseja que esta seja, pode tornar-se no oposto do que ela deva ser, seja um local de iniciação sexual, um local de exploração de mão-de-obra, ou outra coisa qualquer. Contra isso os nossos “conservas” hão de falar em natureza, em reprodução, tudo lixo que sem a tradição e o método Cristão de moralidade está condenado a ser palavra vazia. Os piores inimigos do Cristianismo...
Etiquetas: Direita, Pensamento Tradicional
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