Este Mundo
Oligarquia vs Burocracia
Ao contrário dos tempos da Guerra Fria, em que as ideias e ideologias em muito escondiam desejos inconfessáveis e secretos de grupos sociais e unidades políticas, vivemos um período em que a película do político é extremamente fina, não servindo sequer para esconder o inconfessável ou o indizível.
Hoje a política faz-se recorrendo a um léxico vazio. Na Guerra Fria ouvíamos falar em Democracias Ocidentais, Populares, Não-Alinhadas e sabíamos o que eram. Hoje olhamos para o bloco hegemónico e com as suas várias tendências agregadoras, hegemonizadoras, regionalizantes e humanizantes e não conseguimos distinguí-lo do outro bloco que se lhe opõe, cheio de referências internacionalistas, justicialistas e de resistência, que opera com os mesmos aparelhos conceptuais e organizacionais do Ocidente (soberania popular, voto, empresa multinacional, direitos humanos, internacional partidária...).
Neste momento existem como formas relevantes no panorama político internacional apenas duas formulações políticas. Uma em que o Estado é um mecanismo ao serviço da sociedade civil, outra em que o Estado dirige a sociedade civil. No entanto, ao contrário do que escreve muita da politologia contemporânea, a diferença entre o primeiro tipo de organização política (a Democracia Representativa e Liberal Clássica) e a segunda, geralmente centralizada e pós-comunista, não é uma diferença de Liberdade, uma vez que a sociedade civil pode decidir, como já ocorreu, restringir as liberdades de outras parcelas da sociedade. A diferença é que embora o poder resida teoricamente na população, no primeiro caso o Estado é apenas receptáculo de inputs internos e externos, enquanto que no segundo caso este tenta condensar uma forma de bem comum na entidade estatal. Infelizmente este bem comum é apenas um pálido reflexo do que deve ser a norma política...
De um lado temos o Ocidente e as sociedades escravas da sua vontade, onde a norma política é um acto expresso dos cidadãos, embora este não seja mais que um reflexo das tendências dominantes que algumas entidades difundem para servirem os seus interesses. De outro as sociedades em que o aparelho central se apoderou de todos os recursos da sociedade e que os aplica na perpetuação de interesses da máquina e que são, quase sempre, tomados como superiores aos interesses nacionais. As empresas, os cidadãos, a justiça, tudo se encontra ao serviço da máquina estatal e não responde a nada que não seja a vontade dos que se encontram no seio da máfia monopolizada que é esta forma de Estado. A própria sucessão de chefes-de-estado é operada por cooptação da máquina estatal e na pessoa dos seus funcionários, em vez de recorrer a uma forma tradicional ou a uma personalidade nacional, como se se estivesse a escolher um Director Geral para um ministério.
No meio de tudo isto há quem prefira uma coisa a outra, a primeira forma de Estado, uma oligarquia que despreza os interesses, tradições e a Justiça das comunidades ou um Estatismo do aparelho repressivo onde as tradições e a Justiça só interessam enquanto se subordinam à classe média de onde se extraem os governantes e os milionários que vão inserir o aparelho produtivo da máquina no contexto internacional. Eu não vejo sequer resquícios de luz em qualquer das formas governativas e por isso não vejo como esta pode ser guia para saber de que lado estar nos dias de hoje. Um erro comum da direita portuguesa no passado e muito frequente no presente.
Etiquetas: Internacional
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