terça-feira, outubro 21, 2008

Realismo Metafísico e a Sexualidade





















Algumas críticas foram levantadas, por mentes amigas, ao meu texto sobre a formalização política da homossexualidade. Tentando resumir a questão diria que as críticas se centram em três aspectos: a) que eu estaria a defender um fideísmo, b) que estaria a presumir a bondade da Criação, c) que não haveria razão certa para respeitar a heterossexualidade enquanto expressão de sexualidade.

Quanto à questão a), recorro mais uma vez ao tomismo para me ilibar da acusação. O tomismo é uma tradição filosófica que se apoia num realismo metafísico, preocupando-se com o mundo material, mas colocando-o sob categorias que provém de uma visão metafísica. Não foi à toa que Platão descreveu o mundo metafísico como luminoso, enquanto a materialidade seria sombria, ou que São Tomás descreveu a análise do mundo quantificável como subordinada à questão metafísica, sentenciando a prioridade das ciências universais, sobre a análise quantitativa, material e particular.
Primeiro a metafísica, que elabora a capacidade de distinguir entre os objectos (neste caso o masculino e feminino) e posteriormente a observação de como esses dois géneros se realizam (mais ou menos) na materialidade. Sem essa concepção, acabaremos sempre enredados na teia da distinção factos/valores, o que significa dizer que não conseguiremos extrair qualquer ensinamento a partir do observável e estaremos condenados à vontade.
Mas isto depende da Fé? Certamente, mas não mais do que o homem que detecta algo no mundo físico e que acredita que tal se trata de um objecto diferente de outro.

O mundo material não é, portanto, bom ou mau (em resposta à questão b)), mas é o que é. Este último “é”, contém, porém, a existência material e a existência transcendente. Uma cadeira é o que é, mas neste ser está incluída a capacidade de se adequar melhor às suas finalidades e de estas finalidades serem adequadas a finalidades superiores. No que respeita à Humanidade, o afastamento das finalidades desejadas das finalidades reais e transcendentes é um problema grave, porque afasta o Homem do seu Destino. Quando vejo pessoas a dispender rios de dinheiro e a submeterem-se a cirurgias dolorosas para poderem ceder a inclinações sexuais que dizem ser naturais, não posso deixar de expressar a minha profunda tristeza por se identificar com a Natureza Humana, aquilo que é apenas animal. Em vez de perceberem “o que devo ser”, disperdiçam a vida a seguir inclinações que não foram analisadas e vistas à luz de qualquer moral que não seja a expressão da individualidade.
O respeito pelas suas limitações materiais é uma parte fundamental da Humanidade e o homem ou mulher que desperdiçam a vida tentando alterar ou ignorar essas condicionantes, caminha sem sentido. Não é por acaso que o que se vê no homossexualismo[1] é a apologia do fim do tabu e da repressão, em vez da aceitação de obrigações indissolúveis, de expressões de amor eterno que perduram com os laços familiares, de respeito obrigatório pelos laços da família e da comunidade.

A compreensão inversa a esta expressão individual é dada pelo Cristianismo e a forma como a Doutrina assegura que a união corporal e espiritual se faz através dos dois caminhos genéricos e complementares, o da masculinidade e da feminilidade, que resultam no milagre da reprodução, mas sobretudo na vida Cristã.
Isto, porém, não é uma ideologia, mas uma compreensão, estando sempre aberta à interpretação. O problema é que retirando a ideologia da “expressão da individualidade”, ainda não houve alguém que conseguisse explicar como é que tal prática sexual poderá ser aceite, com respeito pela moralidade Cristã e sem cair na ideia de que todo o amor é Amor, que conduz, por exemplo, ao amor de si próprio como projecto de vida, ao amor do dinheiro, ao amor do Mal como projecto de vida saudável. A ordenação do Amor tem a aceitação das realidades materiais como elemento essencial, como todas as proclamações da Igreja sobre bioética têm vindo a revelar.
Não temos outra bússola.

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[1] Esta é para mim a distinção fundamental na questão sexual. O homossexualismo é a doutrina de legitimação moral de uma prática sexual, que é um ramo de uma ideologia ultra-individualista e pós-moderna de auto-expressão, que rejeita qualquer atribuição de destino ao Homem. Já a homossexualidade é uma prática sexual, que não implica mundividências e que muitas vezes é praticada por quem a considera um pecado ou imoralidade. Nesse caso é problema espiritual, uma falha de temperança.

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