sexta-feira, outubro 17, 2008

Católicos e Neo-Católicos na Questão Sexual
















É frequente que alguns amigos me critiquem por eu não acreditar na capacidade do pensamento humano descobrir por si os caminhos do Bem. Não o digo apenas porque alguns dos mais inteligentes dos homens mostraram uma crueldade inigualável e em que a erudição e o intelecto foram o catalizador ou o combustível que fez arder os seus pecados e crimes por mais tempo e com maior vigor. Digo isto porque vejo em boa gente uma cobardia maior que vem da incapacidade de assumir o que se diz com Verdade, o que é apenas um reflexo de que ou não se acredita na mesma, ou de falta de Caridade para combater para que esta resida no outro.
A questão é muito simples. Para um Cristão a questão da homossexualidade não é a procriação, mas a Natureza. A procriação e a possibilidade desta é apenas um reflexo desta segunda e esta é um reflexo, por seu turno, da Providência Divina. A Natureza Humana segundo a perspectiva Cristã é muito mais do que a mera reprodução ou capacidade de perdurar do Homem. É um verdadeiro elemento de ascensão da humanidade à conformação com o Divino. A isto não há volta a dar. Não é possível que um católico fale em Natureza sem se reportar a esse caminho que a Graça deixou inscrita no Mundo e que permite que o ser humano consiga vislumbrar para além das árvores e dos rios, das pedras e das nuvens. Para si não há outra Natureza.
É por isso que só podemos ficar estarrecidos quando vemos na televisão gente católica eminente a falar sobre a homossexualidade e a dizer coisas como “está provado que as crianças filhas de homossexuais têm problemas”, que “o casamento civil tem de ser entre dois sexos”, ou que “a procriação é o fim do casamento”, como se houvesse para si uma concepção de Natureza que não inclua necessariamente a visão Cristã (esta ideia de que há uma Natureza Material e científica e depois uma espiritual e Religiosa é também um disparate que um dia terá de ser debatido).
Os argumentos são disparatados, porque presumem que a ciência poderá determinar o que quer que seja sobre o que deve ser a comunidade e as suas normas.
O primeiro é ridículo não apenas porque coloca à mercê de um estudo oposto a posição defendida, mas porque acha que é possível compreender o que é um problema mental ou espiritual sem recurso à concepção de Saúde, o “dever ser” do homem e que esta é compreensível sem uma concepção do que é o Bem.
O segundo argumento esquece o carácter imperativo da concepção de género. O Cristianismo não afirma a existência de dois sexos humanos como “facto” e “dado material”. Quem faz isso são algumas doutrinas materialistas absurdas. Podem existir um milhão de sexos, caso se tenha a veleidade de considerar algumas deficiências do sistema reprodutivo como sexos (algo que vai acontecendo na sociedade relativista). Aqui a questão é também evidente. O que um católico não deve fazer é afirmar a existência material de dois sexos, mas sim reafirmar a Doutrina, explicando que o género é uma condicionante corporal que devemos aceitar no sentido de melhor preenchermos o lugar que nos foi destinado na Criação e que só poderá ser cumprido através da inserção numa das funções predeterminadas pela Doutrina. Isto é evidente se tivermos em atenção o hermafroditismo que não é, de forma alguma, condenável, uma vez que se trata de uma condição, mas que não pode servir de desculpa para uma vida sexual anárquica ou imoral, sem assumir um lugar funcional. O que os católicos deveriam estar preocupados em fazer seria em afirmar que apesar de um milhão de opções sexuais que os homens têm no mundo moderno, têm uma moralidade que lhes impõe uma e que a sociedade, ao abandonar essa perspectiva, escolhe inventar-se segundo os seus desejos. Em vez disso esgotam-se a afirmar que cada um tem a sua preferência, “mas casar não”. Bonita lição sobre Caridade, ou falta dela. Ou acreditam que os seus amigos e semelhantes se estão a condenar e deveriam fazer alguma coisa (convertê-los), ou então não acreditam na Doutrina...
O importante do Casamento é a vida comum no sentido das Virtudes Cristãs, que é superior a qualquer construção material e mais importante que os dados biológicos. Esta é impossível enquanto o ser humano se pretende, segundo a sua vontade, sobrepôr à Criação, escolhendo sexos ou, como já acontece, não possuír nenhum.
Seria interessante ver por que razão um neo-católico, que pertence a não sei quantas organizações de solidariedade social e mais uma ou duas de socialização católica, cada vez que vai à televisão tem como principal preocupação esconder todos os traços da sua Fé e se põe a debitar argumentos que escondem concepções cristãs sem nunca as explicitar. A coisa não pega, porque os conceitos são nebulosos e insuficientes. Falta a Palavra. Só não falta vontade de O negar.

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