sexta-feira, setembro 14, 2007

A Conversa da Moda









É inacreditável que num país em que tanta gente fala de política, tão pouca gente perceba do que está a falar. O Conservadorismo é o maior exemplo desse diálogo surdo em que cada um está na sua e todos julgam falar do mesmo.
Não faltam os que dizem ser conservadores de feição anglo-saxónica. Apreciam-lhes o estilo aristocrático e a retórica romântica, mas não conseguem sequer perceber que, escondidas sob a fleuma e a estética, estão concepções profundas sobre a essência da comunidade. Pior, não percebem que por baixo da “patine” estão um conjunto de ideias, muitas vezes opostas e diversas, que se uniram por imperativos da luta pelo Poder. Estas alminhas acham que aquilo é tudo Porto e Xerez, quando existem ideias opostas dentro de uma mesma denominação. Só no século XIX houve correntes tradicionalistas (de Newman e do Oxford Movement), sociais (One Nation e Disraeli), modernizantes e liberais (Peel), vitorianos-pragmáticos (como Salisbury). Nos nossos dias não é menos assim, desde os liberais clássicos (thatcherianos), o conservadorismo cultural-moral (de Hitchens e Scruton), social-democrata e popular(de que Cameron é testa-de-ferro), o pluralismo (de Kekes), o hobbesianismo estático (dos discípulos de Oakeshott).
É tanto o disparate, que à conversinha de café não escapam pessoas inteligentes, que julgam, pasme-se, poder resolver o problema da articulação de duas ideias políticas com “o fim das ideias retrógradas contra a ciência” e a falta de sentido do “medo da internacionalização”. Isto assim, sem mais, tendo como única justificação o “estar ultrapassado” (faltando saber por quem e para quem), ficando sem saber se as leis de repressão da homossexualidade do conservadorismo social thatcheriano são compatíveis com o liberalismo, ou de onde virão as leis que não se encontram ao alcance da vontade popular (já ouviram falar de Burke?).
Estranhos são os tempos em que Hayek é visto como um grande pensador da política. Refugiado num convencionalismo darwiniano, Hayek acreditava que na sociedade nada era susceptível de se manter por si, que nada era digno de se conservar, excepto pela vontade e funcionamento de seus membros. Por isso afirmou não ser um Conservador. Não tinha interesse nos valores morais, em tradições, ou no papel real da religião (para além do seu carácter utilitário), não acreditava na existência de um bem comum, mas apenas na funcionalidade institucional. Só uma definição de conservadorismo se encaixa nesta concepção... A mesma que afirma que um comunista ou um liberal podem ser conservadores: O conservadorismo que não é uma ideia política, mas uma disposição. Ele sabia e avisou.
De resto, pode-se dizer o que se quiser. Que Burke alertou contra as “unintended consequences” toda a gente acha que sabe. Mas o que já não sabem é que defendeu, muitas vezes, reformas de fundo na administração e a criação de um sistema de administração da Índia nunca experimentado... Para quem seria um defensor da experiência e do costume não está nada mal. Que Burke defendeu a liberdade individual toda a gente se lembra, não se lembrando contudo do seu ataque ao “governo dos simples”, a sociedade governada por vontades contratuais do capitalismo-liberal.
Quando se fala em conservar, mas apenas se preserva aquilo que faz funcionar o mercado ou a autonomia individual, estamos perante uma ideia política que não é o Conservadorismo. O resto é perda de tempo.

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