segunda-feira, setembro 03, 2007

Os Sentidos do Poder













Há tempos falou-se muito de monárquicos e monarquias. Como já confessei, não sou apreciador dos círculos monárquicos e do conjunto de demências que neles se escondem e procuram legitimação. É o caso dos devaneios comunistas da AMT, mas também de um conjunto de gente que acha que a vida dos povos se compadece com uma utopia em que resolveram embarcar, não se importando com a total destruição do cimento que une as comunidades e em particular as que atingiram a civilização que acompanha o Cristianismo.


Quem acreditar que a comunidade política morre a cada brecha na legitimidade, está morto para a política. Ainda bem!


Portugal assenta num contrato eterno entre um Rei e um Povo, que tem como intuito preservar os laços naturais que correspondem à boa existência da comunidade. Mesmo onde uma parte abusa dos seus poderes (a Revolução), a finalidade da governação mantém-se inevitavelmente. O Interregno da Monarquia não é um vazio político, mas um período em que não existe ancoradouro na história. No Interregno vive-se a incerteza da necessidade constante de compreender o que ergue e o que conduz ao lamaçal.


A segurança da monarquia é, contudo, falsa. Não faltam exemplos de monarquias doentes em que as populações têm de estar mais alerta do que na situação pós-revolucionária, onde monarcas e seus coniventes destruíram os pressupostos da vida em comum.


A Monarquia é, por isso, muito mais do que a "independência de um" face aos "muitos" (Cromwell gabava-se da sua independência por ser príncipe da República). É sobretudo um título que se prolonga sucessoriamente e que contém um contrato político (ao contrário do contratualismo, um contrato eterno) entre um representante e representados, com um conjunto de prerrogativas que tal acarreta (tanto naturais como convencionais). Consiste, acima de tudo, numa aliança inviolável entre as três partes: representante, representados e a Eternidade que a testemunha.


Por esse facto, um Rei não pode ser deposto por inaptidão, da mesma forma que as nossas dívidas a um tolo não deixam de existir pela sua incapacidade, conquanto este não usurpe os seus direitos (no que respeita à lebre levantada pelo republicano JV).


Maior loucura que o roubo é não perceber que se tem de viver com a sociedade onde decorreu a injustiça e não compreender que só se pode reparar a situação e instaurar alguma Justiça, onde se consiga viver com o acessório injusto.


Por isso nunca passarei o teste "Oliveira Salazar" (rasteira rasteira do leitor Lacerda), achando mais importante que os lugares dos monárquicos a preservação dos territórios que davam a Portugal a possibilidade de ser independente. Chamem-me o que quiserem, mas a minha lealdade não vai para os monárquicos, mas para Portugal (em consonância perfeita para com o Prefeito Paciente e com o MCS).


Entre a legitimidade monárquica que impele para a destruição das premissas da comunidade portuguesa e um poder espúrio e revolucionário que as assegura (apesar do equilíbrio precário com as forças sinistras e da incapacidade de vitória), todos têm de escolher...


Estamos sempre a fazê-lo.

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