domingo, julho 22, 2007

Sujar as Mãos











A política implica a escolha de males e a sua conversão em bens. A política moderna, contudo, transforma o mal em bem de uma forma nominalista, mudando-lhe o nome. A acção cruel é transformada em acto benévolo ao criar no homem a titularidade da moral. O que convém ao sujeito ou ao político torna-se, num acto de magia, bom. A substância não muda, porém. Todos os que não caíram na patranha da subjectividade o sabem.
Converter o mal em bem tem de corresponder a algo mais. A transformação de algo implica sempre um direccionamento, que quanto mais elevado, mais conseguido se torna. Se a acção humana é mais elevada que a dos restantes seres, é-o não por questões de eficácia, mas por questões de orientação, pela capacidade de conduzir a sua acção para finalidades maiores, para fazer com que o mundo cumpra a sua Natureza.
Para dar forma à matéria há frequentemente que tocar o repugnante. Sacrifício necessário semelhante ao dos missionários que conviviam com o pecado enquanto levavam a Palavra ao indigenato.
Hoje não há políticos de Direita por duas razões. Porque sem um horizonte e um desígnio é impossível traçar os limites do aceitável, um político vá cedendo “profissionalmente” até que nada resta do início e se torna indistinto dos demais. O vício inverso é também muito comum. Outra parte da nossa Direita vive no pavor incompreensível de sujar as mãos, demitindo-se da sua necessidade de dizer ao que vem. Não percebe que numa sociedade como a nossa, quem quiser acabar com a partidocracia tem de ter um partido (ou então de esperar um século), da mesma forma que quem se quiser salvar terá de possuír as armas do adversário. No mundo das armas nucleares, mesmo quem seja contra estas tem de as possuir.
Recuperar a Política como arte do compromisso, sem que esta tenha de perder os seus fins, o elemento que lhe dá critério para compreender o que é o limite aceitável do compromisso.
Como disse anteriormente, o que levantou alguma admiração, a Direita é apenas um caminho para se reencontrar um critério, um centro que permite observar e medir os desvios.
O que teria sido de nós se Salazar se tivesse decidido criar um Estado como achava ideal, desprezando a matéria disponível?
Há que pensar o país possível.

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