sexta-feira, junho 01, 2007

Vender Coisa de Outrém














Fiquei bastante contente com as simpáticas palavras, que muito agradeço, dos meus amigos e leitores a propósito da “Carta”. Sem pretensões a texto teórico, parece-me que deixa entrever todos os disparates de que enfermam os selectores de certezas pré-compradas e tenta mostrar como, sem uma referência externa, incorremos sempre na “guerra de todos contra todos” a que Hobbes aludia.
A psicologia de Hobbes, ao reduzir a pretensão do Homem na política, funda a cidade no Medo e instaura como virtude cívica a Cobardia. O que nos clássicos era a vício, nos modernos é virtude e traço essencial do cidadão. Com essa virtude vem a sociedade de massas, articulação de forças vazias nas mãos da demagogia e do horizonte da prática.
Vem daí o populismo de que a tecnocracia é uma das mais recentes formulações.
A ideia de que a Política resolve os problemas das pessoas é mais uma dessas promessas totalitárias, que implica a destruição das esferas infra-estaduais. Quando a política começa a preocupar-se com problemas que não são políticos, caminhamos para a ilimitação do Estado.
Se uma fome faz perigar a sobrevivência da comunidade é um problema político, se uma menina não come a sopa ao jantar ou se torna anorética porque acha que é estético, a questão simplesmente não é do foro comunitário. Hoje em dia, porém, a sociedade de massas, com o precioso auxílio do Estado Social, tornou qualquer pequeno problema de saúde individual uma questão comunitária. O acto de fumar um cigarro prejudica, estatisticamente, o erário. Toca a todos.
Em Portugal o Estado Social é inquestionável, sobretudo pela compra do eleitorado. Quem quiser saber o segredo de Gondomar, de Felgueiras, de Oeiras, de Almada, basta ver onde se gastou mais dinheiro em construção para oferecer e comprar habitantes.
No século XIX a democracia era controlada pelos que controlavam as fronteiras dos círculos eleitorais (o famoso “gerrymandering”), nos dias de hoje o truque é aquisição de populações pela venda de habitação.
O facto de nenhuma força política portuguesa denunciar ou fazer oposição a esta situação, demonstra que tanto liberais como conservadores não têm representação política, nem estão em vias disso.
Que povo nestas condições pode escolher a Liberdade?

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