terça-feira, março 22, 2005

A Saga Gnóstica-Materialista Continua

Fico a saber que o Prof. Nuno Cardoso da Silva desconhece a doutrina da Igreja. A "Centesimmus Annus" não é um manifesto socialista!
Deveria ter-se lembrado da reflexão tomista e das "Duas Espadas", que estabelece o poder espiritual da Igreja e a sua influência indirecta sobre a contingência terrena.
Deveria lembrar-se que a objecto da própria Igreja não é resolver problemas terrenos, mas a salvação das almas! Por esse facto esta sequência de encíclicas não é um manifesto político, onde a Igreja Católica dá directrizes políticas aos crentes... mas uma achega às almas dos fiéis!
Só assim se pode compreender a acção espiritual da Igreja e o seu intuito de oferecer ao valor do trabalho uma virtude própria!
Uma errada compreensão desta concepção (como a própria Igreja reconhece) conduziu aos “padres-operários” (já aceite como heresia marxista pela Igreja hodierna) e à sua concepção comunista da comunidade dos crentes que seria extensa à comunidade política (como se não houvesse destrinça).
Em ambos os casos, dos Padres Comunistas e do referido Prof., o problema está na incompreensão da existência espiritual da Igreja e da sua incapacidade política. Na incompreensão da existência de duas esferas (ideal e contingente), concepção que é central no Cristianismo, como já o havia sido na filosofia de Platão e Aristóteles. Ao tentar reduzir tudo à esfera religiosa está a fazer o mesmo que os Comunistas e os Jacobino-Deístas fizeram na implantação do Totalitarismo.
Ignorar isto é ignorar que as virtudes cristãs não podem ser forçadas pelo Poder Político, mas apenas pelo trabalho pastoral da Igreja no reforço espiritual das virtudes, em particular da Caridade.
O que o Prof. Cardoso da Silva tenta fazer, é tornar a Caridade obrigatória politicamente, o que a desvirtua como virtude (a virtude implica uma não obrigação, mas uma liberdade de acção não coerciva). Aproxima-se assim, perigosamente, do totalitarismo comunista (pela via do milenarisno e da gnose cristã, como bem observa Voegelin a propósito desta matéria).

Ao afirmar a “dignidade do trabalho” como um valor material, o autor falha redondamente a compreensão da Encíclica que pretende analisar.
Porque ignora a premissa base do conceito de Justiça Distributiva, não consegue compreender que esta é a mais clara oposição ao marxismo. Esta “justiça distributiva” a que já aludia Aristóteles na “Política” e na “Ética Nicomaqueia” (kat´analogion ison) é a justiça que “dá igual aos iguais e desigual aos desiguais”. É ela a origem da nobreza europeia e cristã e das desigualdades materiais. Dá mais aos que mais merecem (não só por trabalho, mas por caridade), porque esses tomam voluntariamente nas suas mãos a ajuda aos que menos têm. Esse o exemplo que Donoso Cortés observou nos seus últimos dias, pela palavra e pelo exemplo, ao morrer com o título de Marqués de Valdegamas e com a camisa que tinha no corpo, por ter dado tudo aos que buscavam o seu auxílio.
O que o PCTP-MRPP defende não é uma “justiça distributiva”, mas uma “distribuição aritmética” (kat´aritmon ison). Uma concepção de Justiça que não dá a cada um o que merece, mas que dá tudo igual a todos… O que é oposto à “justiça distributiva” da Igreja. Dá igual ao que trabalha e ao que não trabalha (como observa Marx na “Crítica ao Programa de Gotha”), ao que quer trabalhar e ao que não quer, ao marginal e ao santo, simplesmente porque não considera que exista moral. Todos devem ter o que precisam…

Os tradicionalistas defendem que na Sociedade existe justiça. E que deve ser o Estado a aplicar tal Justiça. Defendem que a contribuição política deve ser canalizada para os que se encontram sós no mundo, e para os que se encontram desprovidos de ferramentas que os permitam subsistir. Defendem, porém, que essa distribuição não deve ser realizada de forma amoral e sem referencial. Defendem que os Direitos materiais a que os Homens terão direito são de carácter político e não religioso (muito menos da religião jacobina dos Direitos do Homem).
O Homem tem direito a recursos materiais, não em virtude de ser Homem, mas em virtude de pertencer a uma civilização com valores e produção.
É disparatado afirmar que Robinson Crusoe, isolado da civilização, teria direito a férias remuneradas ou a reforma aos 65 anos… Não é, contudo, despiciendo afirmar que Robinson teria deveres cristãos para com o seu amigo Sexta-Feira (algo que Robinson compreendeu, agindo em conformidade).
É tão simples quanto isto. O materialismo marxista que o Prof. Cardoso da Silva perfilha (por via de uma corruptela do Cristianismo), nunca conseguiu resolver este problema desde que rejeitou o materialismo histórico.

Nas citações da Doutrina da Igreja, que descontextualiza, o Prof. Cardoso da Silva não conseguirá observar que o maior mal que a Igreja aponta é o socialismo e materialismo marxista? A preocupação distributiva da Igreja é uma oposição ao marxismo.
Desconhecerá também que PNR e CDS-PP defendem um Estado Social com carácter social (no caso do primeiro) e garantístico (no caso do segundo), que afirmam o Estado com funções superiores à mera optimização económica?

“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” é uma demonstração de sabedoria antiga.
Infelizmente o referido docente já começa a apresentar sintomas evidentes de contaminação pelos seus amigos. Utiliza a velha estratégia marxista, celebrizada e epitomizada por Lukacs e du Beauvoir, dos interesses materiais. Insinua o Cristo-Materialista que todos os que não acreditam nesse materialismo, os conservadores e reaccionários, o fazem porque são “lacaios do capitalismo”, ou manietados pelo interesse (como dizia o húngaro). De lamentar…
Esta afirmação pode ter duas origens. Ou o materialismo marxista ou a canalhice pura…

Quem quer ser comunista que o seja, mas não leve Cristo para o soviete…

Não percebo se isto é apenas ignorância, má vontade, predisposição esquerdista, ou se é um ataque frontal à doutrina da Igreja…

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