quarta-feira, julho 07, 2004

A Prudência e o Bem
Um diálogo revelador das diferenças entre Filosofia e Democracia (ao Buiça)

“Sophistes: Let's dialogue.

Philologos: To what purpose?

Sophistes: To discuss what you want, and I want, so that we can understand each other, identify differences, find common ground, and work out ways to accommodate each other and live together peacefully.

Philologos: Why not try to understand what is good, so we can act accordingly and live together peacefully that way?”

Jim Kalb in Turnabout


O que é que está patente numa discussão como esta?
Essencialmente uma confusão… A destruição da ideia de Bem pelo sofismo moderno, do cariz imperativo desse conceito (porque vantajoso para a totalidade da sociedade)!
A confusão essencial e a troca dos graus da discussão.

O sofista concebe toda a discussão sobre uma perspectiva de vontades, de meras perspectivas que tem de ser harmonizadas para que haja Paz, ausência de conflito. Essa é a sua Justiça e a sua metafísica, num mundo onde nada existe de verdadeiro… Só um conjunto de resquícios desse “mito” antigo, a Verdade! Subordina o acessório ao primordial!

O Filósofo, o verdadeiro homem-livre, conhece a imperatividade do Bem, a necessidade de dobrar os seus desejos à sua prossecução, de modo a realizar-se nas suas múltiplas facetas, a família, a comunidade, a pátria, a humanidade…

O Filósofo torna-se em “político justo e sábio” quando consegue coordenar na acção estas duas realidades fundamentais à existência humana, noesis e phronesis, sabedoria e prudência, ideal e contingente.
O político contemporâneo torna-se “prudente” quando percebe que a histeria dos tempos que vive, se deve à divinização do contingente, do acessório, numa busca de domínio, do “domar a besta” que cada vez mais armas e vícios possui!
O Político só pode ser “político” quando lembrar que a retórica deve estar constrangida por uma ideia completa da existência.
O Político só pode ser Homem se compreender a sua submissão ao Bem como sua única Liberdade.

E aqui só podemos lembrar Leo Strauss. Fez renascer a Tradição que fez de nós o que somos, a doutrina platónica-aristotélica como essência do pensamento ocidental. Esta engloba a necessária discussão do contingente e a negociação dos consensos, e uma tradição, profundamente moral, de compreensão de valores, da compreensão do Homem e da sua verdadeira natureza, através dos fins que este deve perseguir.

A Prudência sempre ao serviço da Ideia.

Etiquetas: