A Trivialidade Ética segundo MacIntyre
Autor maldito para quase todos, Alasdair MacIntyre encontrou o seu caminho no aristotelismo. Partilhamos isso. Partilhamos também muitas perguntas. As suas obras são um tributo à inconformidade face ao tempo presente e seus “lugares comuns”, um questionamento constante dos valores da Modernidade, da qual é inimigo jurado.
A Modernidade colocou, com a sua ânsia democrática, ao mesmo nível argumentos lógicos de determinadas proveniências que se inserem em determinadas pré-posições que impossibilitam o estabelecimento de um consenso e de uma decisão política coerente. Toda a opinião é igual em valia, todas podem ser discutidas de igual forma!
Esta concepção provém da emergência de uma “trivialidade ética”, o relativismo, que é essencialmente derivada dos horrores da II Guerra Mundial e da emergência de uma hegemonia que pretende impôr a Paz como valor estruturante e fundamental da ordem política. Este desenraizar da discussão política é bem patente no prélio do Aborto em que todas as partes se arrogam de defensores da Vida e dos Direitos Humanos, embora sob perspectivas claramente divergentes das mesmas.
Com MacIntyre parece ter-se, durante uns anos fugazes da década de 80, reequacionado a necessidade de uma “ideia de bem” face ao avanço das ideias democráticas, destruidoras dessa ideia, em prol da falsa estabilidade das “maiorias” que negam a ordem como um diálogo, uma narrativa. Sabendo que do relativismo e da ciência nada pode emergir de duradouro, só um equacionar das raízes e tradições da existência da comunidade, dos fins que a koinonia visa, pode tornar esse diálogo compreensível e a lei coerente, provida de um sentido moral eudaimonico e não meramente técnico-funcional! Só na Justa Ordem se pode encarar a existência da Liberdade, se pode libertar o Homem da auto-servidão dos desejos colectivos e individuais. Só entrando nesse diálogo, compreendendo a tradição, atendendo aos circunstancialismos, se pode aferir da justiça ou injustiça de determinada situação política.
MacIntyre tentou reanimar o conceito de Justiça, afastando-o das concepções socialistas, hedonistas e materialistas, distributivas que grassam na contemporaneidade.
Penso que falhou nas suas propostas, não sobre as teóricas, mas sobre as políticas práticas que defendeu em determinadas ocasiões, mais por falta de prudência do que por incompetência teórica. Ainda assim é um crítico preciso da modernidade, caído em desgraça por um passado marxista, e por se considerar um “aristotélico revolucionário”!
Etiquetas: Pensamento Tradicional
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