quarta-feira, julho 14, 2004

Mais Reflexões sobre a Pretensa Identidade Portuguesa

Em relação aos últimos posts da Alternativa Identitaria

A Velha Direita

A Velha Direita Portuguesa que defendo estará certamente em crise, mas certamente não está extinta. Mesmo no partido que o seu movimento diz apoiar, dir-lhe-ei que é muito mais forte que os erros do “Identitarismo”. E certamente será muito mais forte do que esse “pastelão de chavões” que defendeu e que irei sumariamente desmontar.

A Direita e Esquerda

A ideia de que uma ideologia não se pode enquadrar na dicotomia direita e esquerda não é certamente original.
Marx, Lenin, Os Verdes, todos se dizem à frente e absolvidos dessa dicotomia, certamente porque se consideram portadores de uma nova sociedade, de um conjunto de valores inovadores que as mentalidades passadistas, ou os cânones antigos, não poderiam compreender. Esta ideia é claramente estúpida! Não se pode compreender Marx como esquerda? Claro que sim, uma vez que tentou criar um sistema metafísico, para destruir a velha sociedade. É obvio que já os Liberais, radicais dos Direitos Humanos, já haviam feito o mesmo a uma escala não tão destruidora. Por isso são ambos de esquerda!
Por isso se consideram as Religiões Políticas um apanágio da esquerda.
Dizer que a diferença entre esquerda ou direita é uma questão de Liberdade vs Igualdade (como Bobbio p.ex.) é um simplismo que roça a idiotia e que nada explica.
Uma concepção orgânica e hierárquica, uma intenção redistributiva de bens sociais, não torna ninguém de esquerda ou direita!
“Só os fins que o objecto visa o poderão definir” é uma norma aristotélica que parece fundamental nestas questões. Só atendendo a isto podemos compreender o que ée direita e esquerda, o conflito entre modernidade e a “verdadeira identidade da nossa civilização”, há muito destruída enquanto unidade.

O Problema da Modernidade

Pelas razões anteriormente descritas considera-se que os portadores da Nova Moralidade são de esquerda, os que tentam conter o fluxo da Modernidade são de direita! Por esse facto grande parte da direita do século XX, não o é na realidade, porque é muito mais uma perspectiva criadora e inventiva do Homem do que um realismo, não sendo uma compreensão ontológica da sua existência, através dos seus fundamentos culturais e históricos, mas uma mera adaptação do Homem ao social, económico e ao material, ou em última análise a vontade do mais forte, aos ditâmes do sangue… Todos extrincessismos morais, e portanto modernas e erróneas invenções!
O exemplo do nazismo é paradigmático desta situação. O nazismo provém, primeiramente da resposta pragmática ao comunismo, pela criação de um estado capaz de prover por um bem-estar económico, que evitaria a entrada do comunismo (não sendo em essência muito diferente deste, por advogar um estado todo-poderoso, e absoluto).
Rapidamente essa tentativa de contenção do comunismo se tornou um movimento niilista, pela crença do advento da morte de Deus e da moral. O nazismo tornou-se assim um movimento não movido por ideais nacionalistas ou fascistas, mas um movimento religioso. Religioso porque a fé que o move é a da crença no desvendar da História e do Mundo. Só uma motivação existe, só uma lei nos domina, “a Vontade de Poder”. O Fuhrer é o homem que consegue essa interpretação, que consegue gerar a Força dos Homens, canalizando-a para a acção. Só ele compreende Deus, porque compreende a ausência de uma moral! Só ele pode manipular a lei… Critérios como Justiça são meramente dimanentes da sua Vontade, que é divina!
O Homem só tem que se dobrar perante a sua justiça! Mas porquê? Porque deveráa o Homem dobrar-se a Deus, se este não for um Bom Deus?

Que Moral? Que ensinamentos?

A proposta dos Identitários Europeus apresenta-se como essencialmente anti-moderna, rejeitando os seus subprodutos individualistas e comunistas. Incorre contudo nos erros da modernidade quando encara (recorrendo aos disparates de Tonnies) a comunidade como um fim em si. Esta perspectiva é uma subversão completa da estrutura existencial do Ocidente (como viu Voegelin em “As Religiões Políticas” e em “The New Science of Politics”), caindo numa ilógica e concomitante rejeição e aceitação dos pressupostos da Modernidade.
A identidade encontra-se como valor máximo do domínio político. Será que essa identidade não tem que estar subordinada a alguma coisa?
Dizer que se age de determinada forma porque essa e a nossa identidade e uma ideia sem qualquer tipo de nexo!
“Porque é que és criminoso? Porque é essa a minha identidade!”
“Porque é que não reflectes sobre o bem da tua sociedade, preferindo um conjunto de apetites imoderados? Porque é essa a minha identidade!”
“Porque é que a sociedade se estrutura assim? Porque é essa a nossa identidade”
Afirmar que a identidade justifica alguma destas coisas é um vazio lógico! A identidade seria algo de eterno e imutável… O mesmo seria se uma pessoa tivesse de ficar com a identidade dos seus 7 anos para sempre!
Eu sou aquilo que prossigo.

Mas que Identidade?

“Defendemos a bio-diversidade, a preservação de todas as culturas e modos de vida na Terra”Que ideia é essa de preservar tudo no Mundo? Que conservadorismo extravagante e mal compreendido é este? Como se o Mundo que temos fosse obra acabada… Engraçado que após tanta crítica a Marx se incorra na mesma ideia de Mundo que este, um “fim da História”!
Qual o intuito dessa preservação? O que é que essa preservação visa? Que “sumo-bem” é esse que torna a comunidade e a pertença cultural um fim em si, numa religião intramundana? Porque é que não se deve preservar o bem e extirpar o mal? Preserve-se então o crime e o erro, apenas porque fazem parte dessa diversidade!
Se o objectivo da acção humana é a comunidade (etno-cultural ou outra) é ela que dispõe da vida e da existência total dos seus elementos, o que é um claro totalitarismo, entrando em contradição com o professado no “post” da Alternativa Identitária.
Isto implicaria que o Estado, ou Nação, não poderia errar, pois seria o horizonte máximo da acção política. Exactamente o mesmo erro do hitlerismo… A obediência seria absoluta e total, sem lugar para Justiça!

Que Justiça?

É certo que defendem direitos, mas quais são? Qual das tradições ocidentais de direitos defendem? (Decerto compreendem que na civilização ocidental coexistem um grande número de tradições…) A Inglesa, a Feminista, a Moderna, a Pós-Moderna, a Liberal… Se é um mero conjunto de direitos adquiridos, como afirma a propósito dos direitos da mulher, não tem qualquer interesse como ideia… Só um legalismo vazio, uma manutenção do presente! E quando mudar essa perspectiva? Que alternativas terá? Que reflexão sobre a Justiça é essa que nada mais é senão uma confirmação dos direitos que já possuímos? Para esta situação já dispomos de uma justificação liberal!

“Não somos culpados pelos erros dos nossos antepassados.”

Que tipo de identidade é esta que não se projecta na história das suas instituições?
Que tipo de identidade é a do homem que recusa as responsabilidades do passado (mais um dos flagelos da modernidade, a crença de que o indivíduo só é responsável pelas acções da sua vontade!).
Que tipo de Homem se diz inocente pelas acções do passado! O Direito Penal seria uma impossibilidade prática, pois qualquer homem que possa afirmar esse corte com o Passado poder-se-á dizer inocente, ser uma identidade diferente por pensar de forma diferente, considerar-se um Homem-Novo sem responsabilidade sobre os actos do homem anterior!
Cai assim na Esquizófrenia da Modernidade, considerando um Homem como uma pluralidade de identidades!

Agradeço as questões postas, mas gostaria de lembrar que tenho aqui um “lápis azul”, que me permite apagar os comentários que me parecerem impróprios. Em último caso apagáa-los-ei a todos, para que algumas pessoas não libertem neste blogue o seu espírito brejeiro e as suas lacunas educativas…

Peço também desculpa pela falta de acentuação, mas por questões de tempo e teclado é-me impossível colocá-la correctamente (só ficam os acentos da correcção ortográfica automática do Word…)

Etiquetas: , ,