sexta-feira, julho 16, 2004

“Disputationes” (cont.)
 
Carissimo Caturo
 
Infelizmente outros afazeres me impedem de dar uma resposta completa as suas questoes e asserçoes. Vao aqui ficando, na medida do possivel algumas reflexoes sobre os problemas que estamos abordando. Agradeço a avidez das suas respostas.
Acho que o melhor elogio que se pode fazer a alguem, nos dias que correm, e que não faz no seu pensar concessoes em detrimento da verdade. Continuemos…
 
Unidade e Raça
 
Uma ideia central na sua concepçao politica, que reflecte as concepçoes universais que preconiza, e a forma como se apresenta a estirpe, raça ou etnia. Esta apresenta-se como fundamento de acçao politica, da unidade politica. Mas porque razao? Sera que as nossas crenças, a nossa moral, a nossa estrutura social, derivam da nossa genetica? Parece-me impossivel arguir tal coisa.
Primeiro porque isso implicaria que o Homem estaria subjugado pelas suas condicionantes geneticas, representado isso uma irresponsabilidade fundamental que conduziria a algo de muito semelhante ao freudismo, a irresponsabilidade perante o impulso, ao homem-animalesco.
Parece-me tambem que concorda com esta visao, pois que defende uma democracia livre dos jugos morais da historia, apelando a esse primevo instinto da Raça (instinto que e defendido pelos modernos humanistas, que unificaria a existencia de todos os seres humanos). A Raça serviria como unidade e providenciaria a compreensibilidade e a unidade dos membros da comunidade, fundada nessa unidade do Sangue.
O problema surge quando observamos que essa unidade racica não se verifica no seu seguimento historico. Todos os povos foram “corrompidos”! A India perdeu o seu espirito comunal e tornou-se uma comunidade de castas, e em parte islamicas. O Irao tornou-se uma Republica Islamica, oposta a tendencia indo-europeia para o “tripartidismo”, a Europa abraçou vigorosamente o Cristianismo! A Estirpe parece não ter um poderio assim tao grande…
Ainda que essa tendencia racial (a admitir a sua existencia) fosse relevante, porque não haviamos nos de a contrariar? As semelhanças com Rousseau e os modernos e obvia! A primitivade do Homem e a sua verdadeira Natureza. E uma oposiçao a perspectiva classica-crista da natureza do Homem como “Fim”. Um homem que apercebe a sua Natureza pela contemplaçao do que lhe e exterior e não pelos instintos interiores.
São de facto a crença nesses instintos interiores como supremos no Homem, que lançam a discordia, ao predominar o acessorio, em vez do principal, o instinto sobre a logica, o desejo sobre o bem. Os cristaos não obedecem a Deus apenas porque essa e a Sua vontade, mas porque ela e o seu Bem (a mais importante mensagem de Aquino). Não e um impulso e uma sujeiçao!
E certo que todos temos instintos, mas cabe-nos como seres humanos controla-los!
O apelo a Raça como fundamento da sociedade politica surge como uma tentativa de unificar de forma “irracionalista” (desprovendo a razao do lugar que me parece ter como fundamental), de mitificar uma unidade que não existe e não e verificavel pelo laboratorio da Historia! Desta forma a não se verificar (como não se verificou) a unidade da decisao, o predominio do Sangue e da Raça, so restam ao Homem duas hipoteses: o Existencialismo de Sartre, o vazio do Homem no nada, na impossibilidade de partilha, encerrado na loucura (verdades privadas e subjectivas) ou a Leviatanica moral do Outro, que dobra os outros para os trazer para a sua visao, incapazes de discutir Justiça ou Bem (pela anterior destruiçao da razao). Em qualquer dos casos so sobrevive a arbitrariedade. A arqui-inimiga do Homem!

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