terça-feira, abril 08, 2008

A Monarquia a Caminho do Fascismo












Retrato de Thomas Carlyle


Os argumentos da apologética monárquica dos nossos dias são um grave retrocesso ao século XIX e à sequência de erros românticos que povoaram o imaginário moderno.
Com o triunfo da Modernidade e a destruição da integralidade do Homem, surgiu a persuasão progressista, com uma paisagem de futuras delícias, libertação individual, e sonhos impossíveis ou inócuos. Da incapacidade de cumprir este sonho surgiu no Homem Moderno um sonho do passado. Embora desprovido do seu verdadeiro sentido, o passado apresentava-se agora como fonte de Valores que não eram senão uma arbitrária imposição dos tempos modernos à realidade do passado. Na época medieval via-se comunidade, mas não se compreendia que esta se encontrava pré-ordenada por uma ordem superior, via-se espiritualidade, mas tomava-se qualquer capricho e suposição moralista por religião.
O triunfo da Modernidade veio pela mão do “Contra-Iluminismo” que, contra a abstracção, assentava nos mesmos pressupostos que haviam criado o problema que o Romantismo queria solucionar.

O Homem Moderno encontrava-se livre das constrições e da legitimidade passadas. Sem essa inserção numa tradição, tinha agora a necessidade de reconstruir a comunidade desprovida de pressupostos, mera obra humana. Surge uma legitimidade diferente da Monárquica, a legitimidade funcional, iluminadora daqueles que têm capacidade de gerar consensos com vista ao funcionamento da sociedade. Defende-se o Rei, mas apenas por que este consegue ser agregador. O Rei já não é depositário de um conjunto de normas de que o próprio não pode dispôr e que norteiam a sua acção e a da comunidade, mas um elemento agregador dependente dos equilíbrios de Poder no seio da sociedade. Forma-se assim uma comunidade ilimitada, que dispõe dos próprios limites da sua acção.

O maquiavélico argumento é o utilizado na Itália Fascista para justificar a ilimitação do Estado, ou seja, o Totalitarismo. Reduzida à espiritualidade difusa do Romantismo, toda a obediência comunitária é obrigatória, ainda que a comunidade seja vazia. A Modernidade prefere caminhar gregária para o abismo a escolher um destino e definir critérios para escolher o fim da viagem. A Unidade é superior ao Destino, o que é o oposto da Monarquia em que o Rei não pode dispôr dos princípios fundacionais que assentam numa ordem que lhe é superior.
Mais do que um projecto de defesa da Nação (o conjunto de princípios sobre os quais se funda a comunidade) esta apologia da monarquia dos “ditadores de ordem” mina toda a consciência de que a comunidade é superior ao povo, de que o que é comum (superior ao contingente) prevalece sobre o particular (ditado pelas circunstâncias da opinião).

Pode defender-se um regime por nele se ver mais ou menos Portugal. Onde esta forma de governo monárquico impera não há lugar para qualquer elemento que não se encontre nos indivíduos. Não há lugar para nada superior.

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