William F. Buckley Jr.
Não sabia da morte de William F. Buckley Jr. até ao leitor Josephus me encomendar este postal. Sendo sincero, não é personagem que muito aprecie. Bill Buckley foi uma personagem central do movimento conservador americano de meados do século XX. Foi Buckley quem deu o tiro de partida e quem sustentou através do seu carisma, a criação de um movimento social que englobava diferentes visões da América.Foi ele quem deu uma “sapatada” no consenso “liberal” das universidades com o seu “God and Man at Yale”. Foi ele quem determinou os limites do aceitável e as fronteiras do conservadorismo institucionalizado que lutaria pelo poder. Há muito para aprender com Buckley quanto à capacidade organizativa e à criação de um movimento a partir de quase nada.
Mas há mais a perceber nos seus falhanços. A arbitrariedade da escolha dos aliados políticos englobados no movimento conservador da National Review revela todos os erros do maquiavelismo. Os anti-comunistas que vinham do “radicalismo de esquerda” e que viriam a constituir o círculo neo-conservador, nada tinham em comum com os libertários e liberais clássicos que haviam sido fundidos com os conservadores no “consenso fundacional” – o mito de que tanto os liberais como os conservadores iriam beber a sua inspiração ao momento fundacional americano – do fusionismo de Meyer. A única coisa que sobrou como um elemento unificador desses movimentos foi um conjunto de princípios espúrios à tradição conservadora e à liberal e que resultariam numa posição de “America First” que conduziu à tragédia do Partido Republicano na Presidência de George W. Bush e ao seu “imperialismo democrático”, oposto a qualquer posição conservadora e a qualquer visão ligada ao elemento fundador.
Hoje, quando se anuncia um comentador conservador na imprensa, nunca se sabe se é alguém com uma visão moral fundada num elemento transcendente, se é um liberal clássico ou um pragmatista, ou se é apenas um maluco que acha que os Estados Unidos podem e devem fazer no mundo aquilo que bem lhes apetece porque receberam “a calling from beyond the stars”. Isso nunca teria acontecido se Buckley não tivesse preferido um projecto de poder a uma missão para os problemas da América e se não tivesse tranformado a cruzada contra o comunismo a único elemento da frente “conservadora”. Caiu o Muro, ficaram a mandar os macacos.
Apesar de católico do rito tradicional e de ser um comentador e político astuto, não o podemos ilibar dessa falta gravíssima.
Etiquetas: Conservadorismo
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