quinta-feira, dezembro 06, 2007

Uma Ideologia Conservadora?














O liberalismo português não está a mudar. Sempre foi assim. Os liberais portugueses, em virtude do seu catolicismo residual, sempre souberam que o liberalismo ou se fundamenta em algo mais profundo, ou ruma ao socialismo e jacobinismo mais profundos. O apelo do Rui Albuquerque aos conservadores e ao renascimento de uma nova (velha de várias décadas) fundamentação do liberalismo é apenas mais um episódio dessa tentativa ideológica de secar o terreno político e epistémico do pensamento à direita, em favor dos liberais.
A base é a já batida ideia de que o problema dos conservadores é não se terem modernizado. Para esse peditório juntam-se um conjunto de argumentos que, além de não serem verdadeiros, levantam um conjunto de problemas que são interessantes de analisar.
Basta ver as leituras imputadas aos conservadores portugueses para nos apercebermos do núcleo do problema. O RA não gosta das leituras de Maurras e de Maistre, mas acha que Burke e Oakeshott são leituras sadias. Descontando o facto de os primeiros autores se terem referido a Burke como “o pai de todas as nossas convicções” e o “único homem com clarividência para compreender a Revolução”, respectivamente, seria interessante saber porque razão Oakeshott e Burke são leituras mais sadias. Eu não sei, mas arrisco... Calculo que o RA considere que estas influências sejam perniciosas, mas mais interessante é saber porque é que assim o são. Ou seja, o RA acha mal que estas sejam fontes do conservadorismo, pelas razões aduzidas no início do texto, isto é, porque não são democráticas e liberais. Ora, se esta não é uma premissa ideológica (escolher o liberalismo e a democracia e depois escolher o que se deseja) não sei o que o será! Tudo certo até aqui, podem dizer os mais incautos, o RA pode ser ideológico, mas mesmo assim é um defensor do conservadorismo de Burke e Oakeshott. Tal ideia está completamente errada, infelizmente. Se há legado que Oakeshott deixou no conservadorismo, foi a oposição a este conjunto de elementos arbitrários e insondáveis aceites pelo Homem, como a ideologia ou a “boa nova” democrática. Para Oakeshott a democracia era o que era (uma forma hobbesiana de resolução de problemas de forma pacífica), mas nunca seria um ponto de partida ou uma finalidade da sociedade.
O ponto torna-se mais grave ainda com a afirmação de que os Miguelistas seriam opostos a uma constituição, quando na verdade estes defendiam uma concepção constitucional semelhante à de Burke e Oakeshott, a de que ninguém têm o direito de impôr uma Constituição. A Constituição, como as premissas da sociedade (em Oakeshott) não são analisáveis. São, simplesmente.
Não se percebe muito bem como se pode fazer a apologia do liberalismo ideológico-democrático e do Constitucionalismo Liberal a partir do seu maior opositor, da pessoa que defendeu que a liberdade só existe em sociedades em que o Povo não tem capacidade para definir os princípios da sua organização, ou como se pode fazer do autor de “Rationalism in Politics” um democrata ideológico.
A imagem que me vem à cabeça é a dos deputados católicos do liberalismo monárquico a fazerem vénias ao busto de Bentham...

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