A Moral da Boa Vida
Dos argumentos de Boavida contra Salazar houve um especialmente curioso e de sentido profundamente moral. Dizia a jornalista que “para Salazar, a caridade acabava em São Bento”, insurgindo-se contra o suplemento ao almoço dado à protegida Micas. Se Salazar lhe dava um suplemento era porque reconhecia que a alimentação era insuficiente, tendo, calcula-se, obrigação de passar a incluir uma refeição mais completa na dieta fornecida pela escola. É claro que o facto da inclusão da sopa na escola pública ter sido medida sua é completamente irrevelevante, assim como o são as graves dificuldades financeiras que o Estado atravessou ao longo da primeira metade do século XX e o facto de na maior parte dos países da Europa do Sul, num período de grave crise económica, a alimentação não ser muito mais substancial que a verificada em Portugal. Em suma, as pessoas passavam fome porque Salazar queria e não porque a Europa e Portugal passavam um período de dificuldades e guerra.
Há aqui, evidentemente, um grave erro moral. A ideia de que a alimentação dada pelo Estado deveria ser a única e de que as famílias não poderiam mandar um complemento à refeição, é fruto de uma mentalidade igualitária e socializante que é fácil de localizar.
Confundir a ajuda estatal (um incentivo à necessária educação) com o socialismo é um erro grave. Mas ainda estou para saber a opinião dos jornalistas da SIC sobre a alimentação dos países socialistas da mesma época, onde havia tanto igualitarismo e caridade universal no prato vazio.
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