Para Além das Teorias?
Quando eu era pequeno lia tudo o que o Miguel Esteves Cardoso escrevia. Gostava muito de todo aquele talento. Despertava-me a curiosidade e a vontade de fugir aos ligares-comuns de uma sociedade acéfala e anómica e, em grande medida, foi a sua escrita que me lançou na busca da razão de obedecer, a grande questão de toda a ciência política.
Quando tinha dezassete anos, porém, houve uma ideia que me deixou a remoer. Numa sessão da "Noite da Má Língua" o MEC disse, a propósito do aborto, que todos os governos têm o direito a impôr a sua vontade e que cabe aos governos seguintes desfazer o mal que estes fizeram.
A coisa nunca mais me saiu da cabeça e a admiração pelo talento do MEC tranformou-se numa enorme tristeza pelo desperdício da submissão a um conjunto de ideias desarticuladas, que tanto serviam para uma proposta de cultura alternativa, como para abrir o flanco a todas as formas de sujeição.
Lembrei-me disto ao ler a apologia de uma sociedade não fundamentada feita pelo MCB. A ideia de que a inteligência, mesmo a desamparada e livre, não comporta uma crença parece-me um pouco ingénua. Se as ideias não estiverem ordenadas em relação a propósitos maiores que elas próprias, de que servirão? Não é sem a theoria que a ideias se tornam em esterilidade?
Etiquetas: Aborto
<< Home