terça-feira, novembro 14, 2006

A Funcionalidade dos Valores
















Quem tenha observado com atenção o movimento neoconservador não poderá deixar de estabelecer relações com o passado. Há uma semelhança grande entre os argumentos funcionalistas da sociedade do maurrasianismo e do neoconservadorismo... Nesse aspecto é óbvio que ambos são formas “conservadoras”, por defenderem aspectos da sociedade, para além de partilharem um pendor “modernizante” na forma como se apoiam na provisoriedade da ciência (em particular das ciências sociais). Esse legado que podemos traçar ao positivismo-comteano, e que é particularmente vincado no positivismo de Maurras, é um traço particular da Action Française e elemento de distinção particular do Integralismo Lusitano na sua forma completa.

Afirmar as verdades de sempre com um argumentário cientificista é, porém, uma péssima ideia, uma vez que baseia no contingente e no que poderá ser subvertido com um estalar de dedos. A ausência de uma Ideia do Bem, sedimentada e construída no Perene, levanta questões a que a posição cientificista não responde, em particular no que respeita à escolha dos elementos que devem presidir a uma sociedade. Essa “sombra de Maquiavel”, que tantas vezes confunde a “razão de Estado”, o “interesse nacional” e o “bem comum”, conduz precisamente a uma posição funcionalista-utilitarista, em que os valores têm mero valor funcional.

A Ciência e Filosofia Política seria como que uma Ergonomia Social. A Justiça seria uma ficção provisória, porque não existiria senão enquanto produzisse efeitos benéficos para a sociedade. Aí reside a sua pecha central.
Ao afirmar o primado de determinados efeitos funcionais na sociedade a Justiça pode ser derrogada em prol dos desejos da sociedade. Caminho aberto para as expropriações, para os massacres de utilidade pública, para a face doentia do progresso...

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