terça-feira, setembro 26, 2006

Teoria Política para o Novo Século















A ilusão do mundo dicotómico tem conduzido uma fantástica distinção que continua a alimentar debates apaixonados. Infelizmente, o debate Capitalismo vs Socialismo é um debate do século passado... Passámos essa fase com a evolução para uma pós-modernidade “emotivista”, relegando a reflexão sobre os convencionalismos hayekianos e sobre o jusnaturalismo clássico-liberal (nozickiano, p.ex.) para a gaveta. A discussão hoje inflectiu muito mais para a esquerda, enquadrando-se na discussão “progressista” de uma sociedade economicista, de distribuição de bens sociais.

Olhemos para a maioria dos argumentos dos partidos da direita moderada do mundo inteiro. Conservadores, Republicanos, Populares e Sociais Democratas portugueses, para todos o liberalismo-capitalista tem como mera justificação o facto de produzir uma sociedade abastada, de dar oportunidades a todos e outros argumentos meramente “progressistas” que apenas sustentam o liberalismo enquanto este se traduz numa melhoria de vida para quem tem a faculdade política de colocar a cruzinha decisiva.
Ao contrário do que se quer fazer parecer nos Estados Unidos, onde o debate do último século era liberalismo vs progressismo social, a verdadeira discussão é entre o centralismo dos “compassionate conservatives” e o progressismo social-democrata, o que representa apenas a discussão entre duas formas de “estado social”, o pragmático e o socialista dos Direitos Sociais do Homem.
As ilusões do século passado são dramáticas porque ficcionam algo que já não existe. Um libertário-capitalista é, neste momento, um sonhador tão grande ou maior que um integralista, um conservador clássico ou um afiliado do PCP.

O que se nos apresenta neste início de século é um conjunto de propostas napoleónicas, que têm acolhimento enquanto satisfazem a massa sedenta de alimentação, vitórias e estimulação do ego. Essa é uma das razões da degenerescência do liberalismo (enquanto conceito) e uma das razões da forma como não se conseguiu implantar como modelo de sociedade. As massas que o liberalismo pressupõe, o atomismo é ponto fundamental do liberalismo enquanto concepção social, estão demasiado sujeitas ao faccionarismo, a fazer a sua dependência económica tornar-se um laço político e existencial. Daí a que se afirme que uma ordem social só deve existir enquanto serve os interesses momentâneos de uma maioria (como acontece nesta social-democracia) vai um pequeno passo, numa comunidade desenquadrada de valores que não o contratualismo. O liberalismo apresentou-se como reacção individualista a uma ordem precedente, mas não conseguiu impôr as suas fundações, sendo ultrapassado por ideias mais aptas à satisfação das massas por ele criadas. Populismo, evidentemente...

Quanto às soluções, às alternativas, aos elementos a corrigir, deixo a para um “post” posterior, grato ao liberalismo por nos ter dado o século XIX onde “exploração de crianças e jovens aprendizes, punições inaceitáveis, uma justiça intra-muros, monopólio, embotamento da concorrência, confiscação do saber” nunca existiram. “Sweat-Shops”, bairros operários insalubres, pagamentos em pão e alojamento (como anteriormente se dizia de escravos), são todos ilusões de uma História que foi inventada por perigosos anti-capitalistas.

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