O Obsceno e a Sublime Liberdade (Final)
Dito o que disse está fácil de ver que toda a liberdade é precisamente oposta à pós-modernidade. A liberdade não é mensurável pela margem de não proibições que a lei permite, nem mera participação do acto legislativo. Mais que isso é um “estado” em que a política lida com a Justiça segundo elemento racional (permitindo a todos os seres racionais a compreensão de seus princípios) e não se fundamenta em relação a uma entidade terceira como possuidor/titular desse elemento normativo. Um rei não manda porque é rei, mas por serviço a um conjunto de princípios que o transcendem, num contexto específico em que se torna o regime mais adequado à Natureza. Essa é a diferença entre um rei e um déspota.
A Pós-Modernidade, ao determinar a impossibilidade da existência de qualquer essência, de qualquer natureza permanente (o “naturalismo” rortyano, por exemplo, vê a natureza como “mutabilidade” sem qualquer possibilidade de referência permanente ao outro) que transcenda a perspectiva individual, impede a existência de uma racionalidade de carácter vinculativo.
A Justiça, ou melhor a justiça, é um elemento meramente relacional, meramente convencional, não podendo provir daí qualquer argumento que não seja o desejo de terceiros. Essa forma de altruísmo que condena o homem a uma posição de escravatura existencial, estando incapacitado de se colocar contra os princípios do seu tempo e da sua comunidade (o verdadeiro argumento do sofista). Oposta a esta está a posição do filósofo que aceita o convencionalismo para subir de patamar, de onde pode observar os erros da convencionalidade, aperfeiçoando-a para a aproximação ao Bem.
Uma sociedade livre, ou aberta, encontra-se onde a compreensão da natureza das coisas possibilita uma alteração justificada e discutível, e não na sociedade pós-moderna onde todos os disparates podem ser ditos, mas nenhum faz qualquer sentido ou tem qualquer imperatividade que não provenha da força de uma realidade social.
O ideal pós-modernista de consenso pragmático é particularmente ilustrativo desse totalitarismo (ou obscenidade despótica) ao encontrar em ideais inquestionados e inquestionáveis razão para a exclusão de ideias. Primeiro porque a sua forma extrema de convencionalismo nada diz sobre a forma de evitar grandes catátrofes morais. Segundo porque exclui, de forma arbitrária, todos os que não partillham as suas lamechices morais insustentadas.
Ao não tornar imperativas as suas concepções de humanidade e ao fundá-las na mera convencionalidade, a barreira para uma nova catástrofe moral está na mera mudança de mentalidades e convenções sociais... nem melhores, nem piores.
Etiquetas: Modernidade, Pensamento Tradicional
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