quarta-feira, setembro 20, 2006

O Obsceno e a Sublime Liberdade (III)


Do que quer que falemos neste blogue a questão vai sempre dar ao mesmo problema. A sublime liberdade que todos procuram.
Muitos vêem a liberdade humana como a liberdade dos animais, deixados à sua sorte num meio onde não possuam restrições. Esta versão é acompanhada de uma libertação também dos sentidos da vida humana. A política fica separada da moral, a moral separada da metafísica, a metafísica dependente dos desejos e não da razão. Esta é supostamente a regra para a Liberdade, a libertação dos contextos, a total independência das esferas da vida humana. Ao cortar-se o nexo entre todos os elementos da vida humana estes deixam de apresentar sentido... sem esse sentido revela-se a arbitrariedade, que é a clara antítese da Liberdade.

O problema é óbvio. Os esquemas simplificadores são os esquemas moderno e pós-moderno (Rorty é tudo menos um defensor da Liberdade, caro Miguel) que possuem apenas justificações no seio da sua própria dinâmica (a acção política fundamenta-se na sua própria dinâmica, no caso do esquema moderno) ou refutam liminarmente qualquer fundamentação (no caso do esquema pós-moderno). São-no porque não deixam lugar para que o homem seja um verdadeiro agente na política e na moral, porque se encontra impossibilitado de racionalmente de encontrar um elemento de obediência que não seja a Força. Estando a acção política desligada dos fins do Ser Humano (se Deus e o reino imaterial são meras ficções humanas), que justificação pode ter este para se afirmar defensor de qualquer Moralidade, Altruísmo e Liberdade, e porque razão lhes poderá o Homem estar vinculado?

Esta liberdade não é senão a maior das escravaturas. A aceitação do inaceitável. Que o Poder se justifica pela Força e não pela sua aproximação ao Bem, que não somos senão escravos de um poder do homem pelo homem. A diferença dessa arbitrarieriedade para a aceitação de qualquer outra, a nazi ou a estalinista, é nula, porque radica na impossibilidade final do homem compreender o seu Dever.
A libertação da política do domínio da metafísica, do domínio do imaterial, de Deus, não é senão a destruição de toda a possibilidade de Liberdade. A verdadeira Liberdade encontra-se, não no deserto ou no reino animal, mas na capacidade que o Homem possui de articular uma moralidade superior à contractualidade e convencionalidade do nosso mundo.

É essa capacidade de compreender o Dever Ser que permite combater o totalitarismo. Nesse sentido urge restaurar a imaginação moral de que Kirk falava.

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