quinta-feira, setembro 14, 2006

O Obsceno e a Sublime Liberdade (I)






















Disse Platão que o homem que conhecesse a Verdade nunca mais desejaria libertar-se dela. Disse mal. Tivesse Platão vivido no nosso tempo e teria aceitado de bom grado as correcções de Aristóteles à sua filosofia. Os Homens passam a vida num esforço imenso para se libertarem do peso da Verdade, sabendo que com ela se carrega um peso difícil.
Não olham a meios para esse efeito…

Acabam sempre por recorrer ao método mais obsceno. O método da Filosofia. Obsceno porque emulador do paradoxo de Nietzsche “Em Verdade vos digo… Não há Verdade”. Obsceno porque oculto no materialismo, seja do cartesianismo ou do empirismo baconiano, se esconde um pensamento filosófico com uma dogmática mais cerrada que qualquer outra. Nunca ninguém viu uma linha recta, mas também nunca ninguém questionou a sua existência. “They are ill discoverers that think there is no land, when they can see nothing but sea”, disse Bacon. Desgraçados dos que o seguiram, que caíram no engodo.
Afirmar que as ideias são meras produções do espírito humano não é uma ideia pragmática, descomplexa e racionalista, mas a encarnação de um corpo doutrinal bastante complexo e que é tudo menos evidenciável segundo permissas materiais.
Ou seja, quem afirma que as ideias são meras produções do génio humano, nada tendo de anterior ou superior a este, é porque possui uma capacidade de “roubar o fogo dos deuses”, de perscrutar o Divino para dizer em seguida “não havia lá nada!”.
Impossível sem metafísica, garanto.
Para além e para mais é uma ideia falsa! Desafio qualquer cultura a determinar que o “pai procede do filho”, ou que A>B>C=A< C.
A colocação da Filosofia enquanto “genre” é apenas sintoma dessa falácia das verdades privadas. Uma filosofia sem Verdade, é o mesmo que uma astronomia sem a faculdade da visão. E há locais onde as pessoas se podem libertar dessas verdades privadas…

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